sexta-feira, março 30, 2007

Poesia Vadia: este sábado, mais uma edição!




A partir das 17h00
Café Sabor & Art
Rua Cândido dos Reis, nº88
Cacilhas
Almada

terça-feira, março 27, 2007

Fomos deixando o nosso destino
gravado numa montanha feita ardósia,
num palco onde desfilámos personagens e máscaras
onde fomos tudo menos nós.
Vamo-nos encontrar um dia, por aí
rasgaremos um sorriso cúmplice;
ou negaremos o presente
que nos leva a um carrasco cruel,
que levanta o cutelo pronto a decapitar-nos as promessas, outrora juradas?


Magda Ortins









(Ilustração de
João Mota
para
Debaixo do Bulcão poezine
nº29 - Março 2007)




Fomos outrora nós
Agora fazemos parte de um bocadinho duma praia
misturados com os grãos já de sílica também a pele.
O olhar esse de espanto
A esperança... - Essa sempre Ali acolá
- Sabendo-me não eterno aqui
Enrosco-me nos cobertores Às vezes rezo

02/06/2004, (03h06m)

João Mota

Poemas publicados em
Debaixo do Bulcão poezine
nº29 - Março 2007

sexta-feira, março 23, 2007













ERA UMA VEZ... UM NADA
NADA NADA NADA, MESMO UM NADA NADINHO DE NADA!
COMO O VAZIO QUE SE DESVANECEU PARA ALÉM DO NADA
ESSE NADA FICA PRA LÁ DO NADA...
QUE NÃO SE SABE NADA...

NINGUÉM DESCOBRIU MESMO NADA SOBRE O NADA...
SEJA QUAL A FORMA DO NADA...

DIZEM QUE É TIPO BURACO, QUE NÃO TEM LÁ DENTRO NADA...
ALGUNS TAMBÉM DIZEM QUE NÃO EXISTE O NADA...

UNS DIZEM QUE É UM NÃO LUGAR...
ESTE NADA REPRESENTADO COM ZERO.

MAS NÃO UM ZERO À ESQUERDA,
UM ZERO O+O=0 UM NADA MESMO!

ELE ANDA POR AÍ...!
ESSE NADA A PREGAR PARTIDA AO TUDO!

UM NADA QUE É NADA
É UM NADA MESMO



~HELGA R
(texto e ilustrações)


www.myspace.com/hellga_girl
helgaworks.blogspot.com



publicado em
Debaixo do Bulcão poezine
nº 29 - Março 2007

quinta-feira, março 22, 2007

Máscaras

Docemente, a noite chega
E acalma meu coração…
Dispo-me das vestes do dia
Tiro a máscara que trazia
E adormeço…

Pelas brumas do sonho
Entre silêncios agonizantes
De uma intranquila consciência
Procuro os nadas indizíveis
Oiço murmúrios inaudíveis
Sinto-me perdida…

Cito de cor o que não me dizes
Fico ébria de desilusão
Entre lágrimas esquecida
Afogo-me num rio de mágoa
E acordo sobressaltada…

Não me quero iludir
Muito menos ficar conformada
Mas de ti já não espero nada!
E rejeito com convicção
Sentimentos de fachada
Amor de conveniência
Ou qualquer outra ingratidão.


Minda

Debaixo do Bulcão poezine
nº 29 Março 2007

metoscano.blogspot.com

quarta-feira, março 21, 2007

bem, já que no hemisfério norte começou essa estação de que tanto gostamos, chamada primavera...

... o melhor é darmos-lhe as boas vindas!


Ilustração de Helga Rodrigues
para Debaixo do Bulcão poezine
nº29, Março 2007

www.myspace.com/hellga_girl

terça-feira, março 20, 2007

Amanhã, Dia Mundial da Poesia

O Debaixo do Bulcão vai estar esta quarta-feira, a partir das 21h30, no café Sabor & Art (rua Cândido dos Reis, 88, Cacilhas), para assistir ao lançamento do livro de Isidoro Augusto "Os Pássaros e o Azul".


Apareçam vocês também.
(Ah, pois, e vamos ter exemplares da edição de Março do Debaixo do Bulcão poezine, para dar a quem estiver interessado...)

segunda-feira, março 19, 2007

Acender a noite

Fica até amanhã,
Não te vás
Assim
Com o vazar da maré.
Fica aqui
Por perto e
Faz do deserto
Uma memória de paz.
Traz o teu
Sorriso
Ao meu leito e
Sossega o teu
Vento na penumbra
Da noite, faz
Do escuro um brilho forte.


Miguel Nuno
Debaixo do Bulcão poezine
nº 29 Março 2007


wiguelnuno.blogspot.com

sexta-feira, março 16, 2007

Miúdos de Olhos no Mundo




















Tínhamos o mundo para mudar;
Deixámos o sol ir e ficámos às escuras, a brincar.
Vimos erguer-se o ódio e, impávidos, escolhemos como arma o obséquio.
Tudo parece muito pouco.
O mundo é grave, azedo e louco.
Esperemos então que o sol volte; talvez ilumine as ideias dos homens.
Se juntares as minhas gargalhadas às tuas
Mudamos a cor do sangue que caiu nas ruas.
Agora está escuro e as injustiças são escassas sombras ténues e sem cheiro.
Vamos acender a luz? O mundo já se estragou,
Está sujo. A brincadeira aqui acabou!
O mundo é só brinquedos partidos pelo silêncio da indiferença.
Acende a luz, tenho medo.
Por que é que só o amor se faz em segredo?
O mundo que os adultos pintam tem as cores de uma paleta de paradoxos.
Achas que nenhum homem sonha?
Os crescidos fazem coisas de crescidos; Se algum sonha é por vergonha.


Texto: Joana Fernandes
parvoicesminhas.blogspot.com

Foto: Cátia Bacalhau
devo dizer
que oiço dizeres
que dizem as formas
do corpo que fuma
deveras distante
de um toque errante
na zona diletante
onde dizem viver
dez dúzias de prantos
rezados pelo padre
no sermão de domingo
às coxas beijadas
da vizinha nua
que se dizia comer
os ossos da mula
em cima de um banco
e gritava “ Pula”


devo dizer que
no fundo do ermo
onde se apagam
amores
a pele da cabra
que exala odores
abriga no colo
os vorazes piolhos
que dizem fugir
para o corno da velha
que habita lá longe
no cimo do monte
que se diz ser abrigo
da carne do amigo
comido por ela

devo dizer
dizendo que não disse


Ângela Ribeiro
Debaixo do Bulcão poezine 29
Março 2007

(Obs: na edição em papel, este texto aparece com a disposição dos versos invertida.
Aqui sim, estão os versos bem dispostos. O nosso pedido de desculpas à autora.)

angela-ribeiro.blogspot.com

quinta-feira, março 15, 2007

Um bulcão em plena primavera? Pois é verdade, aqui acontecem coisas estranhas como esta:

Debaixo do Bulcão poezine
número vinte e nove
Almada, Março dois mil e sete

Ficha técnica
Capa, paginação e grafismo: Helga Rodrigues
(Ilustração da página 2: João Mota)
Autores dos textos: Affonso Gallo, Ângela Ribeiro, António Boieiro, António Vitorino, Helga Rodrigues, Joana Fernandes, João Mota, Magda Ortins, Minda, Miguel Nuno, Rui Diniz, Vang

Brevemente, algures na cidade de Almada, perto de si!

quarta-feira, março 14, 2007

Uma pérola do Youtube: Poesia Sarauí!


Poemas de autores do Sahara Ocidental, em Castelhano, lidos por sarauis nos campos de refugiados da Argélia.
(Se gostam mesmo de poesia, por favor vejam - e ouçam - este vídeo com muita atenção!)

terça-feira, março 13, 2007

Espanto,
a custo,
o fantasma matinal
o torpor,
o abandono
e menos absorto
sofro o calvário da luz,
até que o sono,
branco do nada,
me acolhe
na tentação
doce de morte,
do esquecimento,
"SOU UMA ESTÁTUA DE PALAVRAS"



João Adan
Debaixo do Bulcão 13 - Março 2000

segunda-feira, março 12, 2007

Olho-te

No centro da imagem
Que reflectias
No centro da pupila do teu olho
Esquerdo...
Esqueço... nada é constante... na imagem...
... Real ...
Fico desesperadamente, esperando...
Estagnar esse teu sorriso numa foto
Absolutamente concreta... no meu imaginário.
Mas não te grafo
Não deixo de forma... alguma...
... A tua forma... gravada
A imagem move-se mais rapidamente que o tempo
E é a imagem: luz...
(A única constante do universo: a sua velocidade).
Os meuos dedos percorrem então os teus olhos
Na tentativa de me apropriar de ti:
(Da forma; formas...)
O olhar é agora lançado através
Da ponta dos dedos
E o olhar; este é divino
Descubro então agora:
- Agora somos deuses!... Agora!


José João Mota
Debaixo do Bulcão 2 Março 1997

Poema visível ao contrário

Começo a conhecer-me: não existo
Mas não existo nem existirei
Tenho sonhado quanto sonhou Cristo
E ao olhar-me sou quem não serei

Que me defende neste mundo rasco?
Vivo em conveses densos de ilusão
E ao ver os rombos largos no meu casco
Não caio ao mar nem fujo da prisão

Já me importou a vida e algures tê-la
Neste baralho outro me descarta
Minha intenção não foi a minha estrela
E não haver um raio que me parta!


António José Coutinho



Debaixo do Bulcão 14
Março 2001

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4 s4nh4 2sc1v1 s4mbr1s n1 v4z d4 mj1r 2nq51nt4 t5 ex3st2s n1
l5c3d2z 2sp4nt1n21 d4s m3n5t4s 1 h1v2r 1 v3d1.

R4s1 s4mbr1 m1r 2 p2r4l1s 2m t3.
C1m3nh4s pr4f5nd4s d4 f3m d4 m1r

1g51 r35 2m n4s
p2r4l1s br1v1s 2m 1m1nhã.


Constança Parelho
Debaixo do Bulcão 13
Março 2000

sexta-feira, março 09, 2007

Estrela da tarde


(Um poema de
José Carlos
Ary dos Santos)



Era a tarde mais longa de todas as tardes
Que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas
Tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca,
Tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste
Na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo
Que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz
Que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto
Tardaste o sol amanhecia
Era tarde demais para haver outra noite,
Para haver outro dia.
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza.
Foi a noite mais bela de todas as noites
Que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite
De aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois
Corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa
De fogo fizeram.
Foram noites e noites que numa só noite
Nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites
Que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles
Que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto
Se amarem, vivendo morreram.
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza.
Eu não sei, meu amor, se o que digo
É ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo
E acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste
Dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida
De mágoa e de espanto.
Meu amor, nunca é tarde nem cedo
Para quem se quer tanto!

José Carlos Ary dos Santos
(7 Dezembro 1936 - 18 Janeiro 1984)

Biografia e alguns poemas,
no site As Tormentas

Mais poemas de Ary dos Santos:
users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/ary.dos.santos.html
poemasdomundo.wordpress.com/tag/ary-dos-santos/
palavrasquemetocam.blogspot.com/

(Este poema é também a "letra" de
uma canção que foi apresentada
no Festival RTP da Canção de 1976,
com música de Fernando Tordo
e interpretação de Carlos do Carmo)

Quinzena da Juventude de Almada

Começa hoje e decorre até ao próximo dia 26, em diversos locais da cidade, mais uma edição da Quinzena da Juventude de Almada.
A organização (Câmara Municipal e Associações Juvenis participantes) destaca o espectáculo de abertura "Zeca Afonso - Alma(da) Utopia" (hoje, às 21h30, no Auditório Fernando Lopes Graça) e o encerramento, com os Moonspell, (dia 24 às 22h00, na Incrível Almadense).
O Debaixo do Bulcão puxa a brasa à sua sardinha e destaca o espectáculo de marionetas "Alice no País das Maravilhas", de Ângela Ribeiro, (dia 17, às 16h00, no Auditório Fernando Lopes Graça).
Porquê o destaque? Porque a Ângela é uma das pessoas que publicam textos no poezine. E essa é uma óptima razão!

Mais informação em:
Câmara Municipal de Almada
Viagens no Mundo das Marionetas

quinta-feira, março 08, 2007

Vixit



O vento
violento
profana as campas
arromba janelas e portas
viola a mente humana.

Encarnaste nele
é soberba a tua revolta.

Vês agora que te enganaram
a morte é após a vida
e não a vida após a morte.

Temeste sempre as portas do inferno
deixando por viver o orgasmo
a superioridade do vinho
os sonhos da mulher
que poderias ter sido.

De nada te serve agora
tentares fechar as malditas portas
que abriste.
Ainda nem deram conta
que já partiste.


Ana Monteiro
Debaixo do Bulcão 8 - Março 1998


Vixit: palavra latina, que significa "Viveu".
É utilizada como eufemismo ou como antífrase (viveu = morreu).

Imagem: Rafael, "La Donna Velata" (1516).
Copiada de
www.cosmovisions.com/Raphael.htm
(Visitem também:
digilander.libero.it/debibliotheca/Arte/sanzio/page_01.htm)

quarta-feira, março 07, 2007

São só palavras

Caminho na ponta
fina da faca afiada.
Olho o crepúsculo dourado com um
cinzento na vista só.
Fico numa permanência
que passa e permanece
ímpar. Escolho exorcizar
fantoches do desejo num
trago de licor maquiavel.
Saboreio o minuto que
trespassa a noite agreste e
concentro cargas de explosão
orgásmica.
Fixo ficção fictícia.
Fixação doente no acordar
catárrico da caneta
que espirra a canção.


Gabriel
Debaixo do Bulcão 2 - Março 1997

terça-feira, março 06, 2007

Mentem muitas vezes os que dizem que
eu perdi a vontade de sonhar.

Dizem tantas coisas com palavras sem cor,
quiseram proibir a luz do universo...
E eram incessantes nas suas frases frias,
profetizando para o meu poema
o esquecimento.

Eu lancei-lhes aos olhos os raios deslumbrantes
de nosso sonho,
cravados no teu coração e no meu,
e reclamei o mar
que deixavam as nossas pegadas.

Me perdi de noite, sem luz, sob tuas pálpebras
e quando me envolveu a claridade
nasci de novo,
dono de minha própria ilusão.


Vang


em Debaixo do Bulcão poezine
número 23, Dezembro 2003

ATENÇÃO

As ruas estão cheias de lugares comuns e de passadores de
valores que a tudo respondem, sem avisar.
E sobre a liberdade de criar na violência do gesto negro
uma nova forma de amar, nem pensar.

Lábios sopram beijos que trazem todos os conhecimentos petrificados
e dizem baixinho para ficarmos sentados.
Ninguém pode sair destes caminhos, bandos de idiotas
vagueiam por entre as pedras armados.


Vang

em Debaixo do Bulcão poezine
número 3, Abril de 1997

Sobre o autor:
Vang é um pseudónimo. O autor, conceituado fotógrafo angolano, pede para manter "longe" o seu verdadeiro nome porque, segundo ele, «escrever não é uma das minhas artes que eu goste de apresentar. Só escrevo como exorcismo de dor».
Respeitando a sua vontade, acrescentarei apenas que este autor, que reside em Almada e tem nacionalidade angolana, nasceu algures na Alemanha (ops... espero não estar a abusar!...), a 6 de Março de 1971. Por outras palavras, faz anos hoje.
Portanto, feliz aniversário, Vang!
De um leitor do Bulcão, depois de ver quase toda a colecção, indignação. Ditada ao provedor Abreu Santinho e aqui reproduzida em forma de soneto por esse talentoso rapaz chamado Affonso Gallo


verteu dziga vertov algum poema
que justifique esta tão agridoce
capa do bulcão número catorze?
e os direitos de autor? querem celeuma?

não acham que isso pode dar problema
já que não foi o autor que vos trouxe
o boneco? cuidado ou levam coice
dos autorais guardiões do fonema

e também da imagem. cuidadinho!
olhem que quem avisa é vosso amigo
e tem o seu trabalho a sete chaves

de olhares intrusos mui bem guardadinho.
(havia outras coisas mas não digo:
não serei eu quem vos vai pôr entraves.)


de um leitor atento e anónimo, transcrito por
Affonso Gallo

Nota do provedor, Dr. Abreu Santinho:
Ouça lá, ó leitor: a capa a que V. Excelência se refere foi composta por Luísa Trindade em 2001, quando ela ainda morava em Almada. Agora, a gaja emigrou para Inglaterra e não me deixou endereço nem outro qualquer contacto. Portanto, Excelentíssimo Senhor, não lhe posso dar mais informação sobre a elaboração e/ou o conteúdo dessa capa, até porque os meus conhecimentos de russo não são assim tão bons quanto paressem ser seus. Quanto aos direitos de auctor, não estou para me xatear com isso. Aliás, estou farto de aturar gente parva, e só não o mando à merda porque o António Victorino me aconselhou a não o fazer, uma vez que isso me poderia trazer desagradáveis consequências jurídicas, diz ele. Tenho dito!

Nota do editor: desculpem lá, mas eu agora estou demasiadamente ocupado para editar os comentários do nosso venerável provedor.

Informação adicional sobre Dziga Vertov:
www.geocities.com/contracampo/dzigavertov.html
documental.kinoki.org/dzigavertov.htm
www.ufba.br/~revistao/01ideogr.html
revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT1013691-1655,00.html

Quase toda a colecção do Bulcão em:
entertainment.webshots.com/album/555724059dmGroA

(um poema de António Boieiro)

A poesia não é laranja,
nem rosa, nem vermelha
nem verde, nem sequer violeta
É sim; violência desenfreada
de palavras sem dono
sem cor nem sabor
Mulher da vida com a vida desfeita
mulher feita mulher
cheia de vida
cheia de vida
Mulher perfeita e imperfeita
linda, feia
Mulher, mãe
Mulher, filha
Mulher, poesia
Poesia grávida
perfeita poesia nas horas vivas
do poeta


António Boieiro


em "Esta Doença que é Escrever"
Edição do autor
Coordenação editorial: Ermelinda Toscano
Almada, Fevereiro 2005

O Fado

O fado é saudade!
Uma súbita desgarrada,
Temática voz repetida,
Balada à viola e à guitarra.

O fado vai crescendo ao vento,
Na temeridade e na sorte,
Da ortoépia do momento,
Que destina a vida e a morte.

O fado é a perversa solidão,
Onde se disforma a dor,
O Desalento dos dias em vão,
Entre o devaneio e o amor.


Pedro Alves Fernandes

em "Pintura Astral
As Palavras Onde Me Perco"

edição do autor
Lisboa, 2006
(poema divulgado neste blog
com permissão do autor)

segunda-feira, março 05, 2007

Sobre as ligações deste blog

Com tanta literatura na internet, e porque não a podemos divulgar toda, havia que estabelecer critérios, não é? Pois é.
Então, os critérios são estes:

1 - Dar prioridade aos sítios que divulgam autores de língua portuguesa, ou traduzidos para português - novos, consagrados, e outros que não sendo novos também não são consagrados. É esse critério que levou à inclusão de websites como a Biblioteca Nacional Digital e O Cantinho da Poesia, ou blogues como o Alicerces e o Canal de Poesia.

2 - Na secção "família e amigos", temos a família e os amigos. Portanto, não se admirem de ver aqui blogues que não são de literatura, como o Viagens no Mundo das Marionetas ou o Teatro Fórum de Moura: são amigos. Já o Affonso Gallo e o Baltasar Mingo, esses, são família.

3 - Outros critérios para ligação a blogues, páginas pessoais e outros sítios: terem conteúdos diversificados, diferentes do habitual (por exemplo, Zoo Poesia) ou, respeitando a "regra da reciprocidade", aqueles que nos visitaram e deixaram mensagem para nós sabermos que nos visitaram.

4 - Na secção "outras línguas e literaturas" a prioridade vai para sítios que divulguem autores em línguas que nós possamos entender. É por isso que, embora eu gostasse muito de ler o Maiakovski em russo ou o Brecht em alemão, como não o consigo fazer, fico-me pelo Shakespeare em inglês, pelos autores que escrevem em galego, ou por alguns argentinos contemporâneos. Isto são apenas exemplos, obviamente...

5 - Julguei também interessante incluir alguns instrumentos de trabalho eventualmente úteis: dicionários, portais, bases de dados, etc. Encontram-se (como seria de esperar) na secção "outros atalhos úteis".

Claro que, em todas estas escolhas, pesa muito o meu gosto pessoal.
Enquanto editor do Debaixo do Bulcão procuro ser o mais abrangente possível.
Mas o que é isso, afinal, alguém me diz?


António Vitorino,



o vosso humílimo editor
quando não lhe dá da alma a dor
e se põe antes a repar
que é melhor que desertar
mas volta sempre à questão
que é fazer a edição
do debaixo do bulcão

quinta-feira, março 01, 2007

Os pastores e os lôbos











Em tempos muito distantes,
Num país desconhecido
Dos modernos viajantes,
E que nos mapas não vem,
Dizem ter acontecido
Que os pastores mais os lôbos
Houveram enfim por bem
Acabar mortes e roubos.
Foi o tratado
Assinado
Com todos os barbicachos:
Os pastores os seus cães
Entregam como reféns,
E os lôbos os seus lobachos.
Mas diz o velho ditado:
- Atrás de um tempo, outro vem -
Isto levou mais de um ano.
Até que os lôbos puseram,
A pesar das convenções,
Com tôda a pouca vergonha
Em obra as suas tenções,
E eis o que eles fizeram:
Por uma noite medonha
Mataram os reféns
Os cães.
Correm direitos aos currais;
(Os zagais
Dormiam todos, fiados
Na santa fé dos tratados).
Ali com os filhos, então,
Quási em fôrças seus iguais,
Matam, ferem sem perdão,
E levam grande farnel.
Lembra-te dêste painel:
Com malvados
Não queiras nunca tratados.



Henrique O'Neill,
"Fabulário"

(Citado em "Leituras Para o Ensino Primário" - 1929
de Augusto C. Pires de Lima e Américo Pires de Lima.
Nesta transcrição foi respeitada a ortografia da época,
como é bom de ver.)

Sinto-me só

Sinto-me só,
como quaisquer magos;
Como qualquer Rei com um só olho
num mundo de cegos;
E só me sinto,
mesmo não estando na verdade;
mas não se escuta o som das vozes
que deviam encher as plateias
do re-despertar da Humanidade!
Sim! Onde está o calor das gnoses
que nos podiam aquecer ideias
ante a glaciação da realidade?

Que passos demos nós,
em prol da consciência,
se essa consciência a que pertencemos
só nos dá a noção da força que não temos?
E sinto-me só! Sinto-me só e com frio!
Sinto os meus pensamentos congelar no hipnotismo
de uma existência na nossa mente forçada,
e dominada, no materialismo!
Seres poderosos feitos tão fracos,
transformados de transparentes em opacos
com apenas uns anos no delírio
de serem trapos!

Que mortes vos esperam mentes inúteis?
Talvez tão inúteis como a minha,
talvez ainda mais fúteis;
se adoradores da Rainha.
Sinto-me só convosco, meus amores,
que vos amo a todos ainda
e aí sim, como nos programas,
talvez para sempre o sinta.
Assim é, não sei mais como vos diga;
sinto-me só;
aprisionado entre a fadiga
e o nó!

Peço-vos,
aos que despertam no perigo,
vençam os medos!
Peguem nas fundas!...

E partilhem comigo:
segredos
e perguntas!...




Rui Diniz
(Poema enviado pelo autor
para publicação neste blog)

cortedelrei.blogspot.com