segunda-feira, dezembro 27, 2010

Trezentos invernos



Bebe Morada
o sangue Meu
escuta e quebra
as prisões da Humanidade.

Despe o Manto
ao Céu, e foge
por entre a Folha
que pertence ao nada.

Bebe Morada
Caverna do Infinito
de trezentos invernos
que trazes em nós
Bebe Morada
o Sangue Meu.


Lino da Cunha

Debaixo do Bulcão poezine

Número 1 - Almada, Dezembro 1996

sábado, dezembro 25, 2010

Morgue

Debaixo do Bulcão poezine
Número 1 - Almada, Dezembro 1996

quinta-feira, dezembro 23, 2010

Luísa Trindade

Debaixo do Bulcão poezine
Número 1 - Almada, Dezembro 1996

quarta-feira, dezembro 22, 2010



Mergulho no mar da alma
e afogo-me em espasmos
de loucura sã.
Atravesso as fronteiras da carne
e perco-me nos meandros do ser
vislumbro a dor dos homens e
contemplo seu pranto surdo.
Eu sou a lágrima que dos olhos cai
como cristal puro.
Eu sou a voz que dos lábios sai ecoante
por entre os ventos, a palavra dos pássaros,
o caminho dos homenos, o sonho dos deuses,
sou a cor que transmuta a pedra.
Eu sou...

António Boieiro

Debaixo do Bulcão poezine
Número 1 - Almada, Dezembro 1996

Silêncio!
Que hoje se conta um fado.
A história de um amor,
da eterna saudade,
de noites de luzes perdidas
num sonho sonhado sem tempo
ao sabor da morte, ao sabor
do fado.
A história de corpos vagueando
no fio de uma navalha
a história de uma falha.
De olhos sem brilho,
de almas despertas,
de flores encantadas,
de um conto de fadas.
A história de um mar que aclama.
Silêncio!
Que hoje se canta a alma.


António Boieiro

Debaixo do Bulcão poezine
Número 1 - Almada, Dezembro de 1996

terça-feira, dezembro 21, 2010

Morgue

Debaixo do Bulcão poezine
Número 1 - Dezembro 1996

3 and a half pages

3 men
In the desert
3 blows of
Hot air
3 twisters on the
Horizon
3 books on the
Bonfire
3 suns on the
Sunset
3 colours off
The rainbow
3 tears in the
Ocean
3 years
On the run
3 figures
On the wall
3 wiseman
Going insane
3 flowers
With a thirst
3 glasses with
No liquor
3 bottles
All alone
3 laughs
In the rain
3 wounds and
No pain
3 bitches with
No wish
3 fears and
A tear
3 pieces of
A game
3 stars in
Loneliness
3 thoughts of
Desolution
3 mirrors in
Reflexion
3 creatures of
One love
3 traps for
The mice
3 points for
Shakille
3 cracks and
A shout
3 smokes on
The weed
3 shakes on
Dirty hands
3 fantasies on
My mind
3 brokenheart
Women
3 riots on
The ship
3 veils
Unbroken
3 fucks
In a row
3 walks in
The park
3 children in
The dark
3 pages and
A half
With no sense
Nor any kind of
Sense.


Miguel Nuno

Debaixo do Bulcão poezine
Número 1 - Almada, Dezembro 1996

segunda-feira, dezembro 20, 2010

Abismo


Abismo
Solidão
Estou só
Bismo, tismo, pó
Abismo
Pó solidão só
Tismo abismo pó
Pó solidão estou só
Abismo tismo
Só pó dó


Paula Cristina

Debaixo do Bulcão poezine
Número 1 - Almada, Dezembro de 1996

sábado, dezembro 18, 2010

Dados técnicos e mortais sobre a G-3 e os vários prazeres de um militar "normal" com uma G-3


A G-3 é uma arma automática de cano fixo que funciona por
acção indirecta de gases o que diz muito sobre a nossa
ligação indirecta com a G-3.

A G-3 contém 19 munições que equivalem a:

19 animais tanto por fome como por prazer este último inclui
bestialidade com animais mortos

19 famílias que inclui tias chatas antipáticas e da linha,
avôs fascistas que estão sempre arrochados no teu lugar
preferido na sala e claro por último mas não menos importante
grandes heranças, tias sovinas, irmãos e primos agarrados ao
pó, enfim continuando lá ia o stock do exército

19 superiores (sem comentários)

19 skins (idem idem aspas aspas)

19 junkies são munições desperdiçadas mas mesmo assim
só pelo prazer

Alcance máximo 3.800 m. acompanhado por duas frases célebres
"confia na virgem e não corrras"
"podes correr mas não te podes esconder"

Peso da arma 3.950 g.
que é tanga militar, ao fim de uma hora passa para o
dobro ou triplo do peso

Velocidade inicial do projéctil: 700 a 800 m. p/segundo
Velocidade final do projéctil: morta

Peso do carregador vazio: 0,280 g.
peso que não convém em tempos de guerra (infelizmente não
temos ninguém vivo para confirmar esta tese em termos práticos)

DADOS GENTILMENTE CEDIDOS POR FONTE ANÓNIMA RESIDENTE EM
PAÍS ESTRANGEIRO QUE DEPOIS DE TER PASSADO DA TEORIA À
PRÁTICA DECIDIU MUDAR DE PROFISSÃO IDENTIDADE E SEXO.


Z. BTTA

Debaixo do Bulcão poezine
Número 1 - Almada, Dezembro 1996

domingo, dezembro 12, 2010

Fantoches do desejo



Pinto o desejo de momentos, que fazem de ti um rio de cores
Que nunca soube atravessar o deserto frio de teu olhar
Cruzo as ruas da loucura, corôo o mundo de espinhos
Dizes que ainda somos um, mas eu sinto-me tão sozinho

Vendo sonhos para nunca me chamarem de frustrado
Intrigas-me e eu perdoo-te ainda somos dois no mesmo jogo
Pagas para veres sentir estar tão perto do fim
Faço de conta que te esqueço, posso eu fugir de mim?

E eu vim só para te ver
Agora que o comboio já passou
Aplaudam a decadência, o espectáculo já acabou
Mas eu faço de conta que ainda agora começou

E quanto mais eu fugir
Mais correm atrás de mim
Para que eu nunca me esqueça
Que estou tão perto do fim

Deitar tudo a perder
Por uma noite ou um beijo
Pinto de negro a loucura
Fantoches do desejo

Fecho os olhos... talvez te encontre na escuridão
Abro as portas que um dia se transformaram em prisão
Navego no meio do lodo, tenho todo o tempo do mundo
Para fugir ao desespero, ou será apenas ilusão

Revela-me os segredos que turvam a tua alma,
Deixa-me saltar os muros que impões à tua volta
Não te escondas na promessa, que nunca poderás cumprir
Faltam-te agora as palavras, no fim só te resta fugir

Deitar tudo a perder
Por uma noite ou um beijo
Pinto de negro a loucura
Fantoches do desejo...



Aarons Bia

Debaixo do Bulcão poezine
Número 1 - Almada, Dezembro 1996

sábado, dezembro 11, 2010

Vazio de ideias feito

Sala estava já cheia,
Completa pelo ambiente vazio.
Aquele que a enche está presente
Prumo potente que segura
A palha de cobertura

A sala composta mais
Que um simples par de empregados
Há força trabalhadora
Que trepa o tracejado
Da tarefa

A sala está linda
Trespassada pelo azul
Ora longe ora perto
Ideia longa que só se lembra
Límpida e legitimante lutadora

A sala, essa ainda lá está
A sala, essa já lá esteve
E conteve o vaivem de vozes
E vergonhas vazias de vida


Aurélio Engeerling Auffass

Debaixo do Bulcão poezine
Número 1 - Almada, Dezembro 1996

sexta-feira, dezembro 10, 2010

Caligrafia


Escrever é muito bom
E é também sinal de que já
Somos homenzinhos.
Mas é preciso que nos entendam
Para isso exercitamos a caligrafia.
Depois, podemos exercitar as ideias,
Mas, primeiro a caligrafia -
Dizia a régua de pau feita
(Não sei já em que ano foi)
Na mãozinha calejada do meu avô.


Sturrefsit Adjukaatrix

Debaixo do Bulcão poezine
Número 1 - Almada, Dezembro de 1996