segunda-feira, dezembro 29, 2008

Indo o autor com um amigo pela estrada da vida, pediu-lhe opinião sobre seus amores tão delicados


já pelo verde prado que apenas
existe numa óptica poética
no silogismo firme e na métrica
mas nunca nos teus olhos de helenas

tocava o tocador suas avenas
chorava o poeta sua ética
sofrias tu de fome anoréctica
e eu pasmava já de tantas cenas.

foi então que pedi ao viajante
que comigo sulcava o prado raso
opinião palpite dica oráculo.

afirmo (respondeu esse pedante)
ser este muito estranho e raro caso
mas eu para profeta sou bem fraco



Affonso Gallo


(ilustração de Jorge Feliciano)

domingo, dezembro 28, 2008


Estava a carochinha a fazer se à vida lá para os lados de benfica a apregoar:


"Quem dá uma moeda a carochinha
para ela dar uma quarta de branquinha
que ela coitadinha se meteu nesta bronca
e agora anda toda ressacadinha


"Quem ajuda uma carochinha agarrada à cocaina?


Quando passou o João Ratão,velho carochão
chulo velho de prostitutas de 2a mão,
gago
que lhe diz num tom de sabedoria interrompida
pela gaguez fodida;
caro-chinha, caro-chinha quan-tas vezes
te te disse que que te ias d-dar mal a d-dar
na coca coca cocaina...

Z.BTTA
Debaixo do Bulcão poezine
Número 34 e meio - Almada, Dezembro 2008

Suspenso





Como uma serpentina esquecida
Pendurada, já sem cor, na
Varanda dos carnavais antigos
Suspiro a espera
E antecipo os cenários
Todos iguais na sua
Diferença

Que o fim último
É um sentir progressista
De quem mesmo parado
Avança luz verde
Na noite escura
Que cobre as casas
Mas não as ideias.




Miguel Nuno, 2008



Debaixo do Bulcão poezine
Número 34 e meio - Almada, Dezembro 2008

Mensagem


De braços abertoste recebi
o meu tempoa minha atenção
te dispensei...

Do meu coração
as portas abri
mágoas antigas guardei
o passado não esqueci
mas o teu silêncio respeitei...

De ti apenas exigi
respeito e consideração
com sinceridade agi
amizade te ofereci...

Mas agora que de novo partiste
sem nada explicar
finalmente percebi
que de ti nada posso esperar!


Minda



Debaixo do Bulcão poezine
Número 34 e meio - Almada, Dezembro 2008
(Ilustração de Jorge Feliciano)

sexta-feira, dezembro 26, 2008

CINEPSICOCITADINO



Corpos licorosos despindo a madrugada

Líquenes embriagados
Transformistas sequiosos

A mental fanfarra dos incautos

Percorrendo alamedas perniciosas
O cio vendido ansiosamente à pressa
As mãos trémulas acariciando luas incandescentes
Em festivos gemidos triunfantes

Só de alma
Alma só

Violentado riso
Palhaço sem gargalhada
Ultimo suspiro da piada
O néon salpica o crítico
Comediante frustrado de língua frustrada

O inominado rendido,
Iletrado às aranhas
Em matutinos gratuitos
Sapiência sonolenta

Frequências frenéticas
Ouvidos cibernéticos
Implantes televisivos
Numerologia às avessas
Horóscopos silicónicos

Vaidades espelhadas em buços rapados à pressa
E imitações aberrantes de modas doentias

Alma só
Só de alma




António Boieiro

Debaixo do Bulcão poezine
Número 34 e meio - Almada, Dezembro 2008

(desenho de Sturrefsit Adjukaartix, anos 90)

quinta-feira, dezembro 25, 2008

O último a rir




quando joão se riu de fernando, fernando riu-se de joão
pensando que assim seria o último a rir. mas
andré riu-se de josé que se ria de joão. fernando
riu-se de todos e pensou que assim seria
o último a rir. mas lucília riu-se de marília
e marília riu-se de lucília pensando
que assim seria a última a rir. mas fonseca
riu-se de alberta que se ria de natália que se
ria de proença que se ria de lousada que se ria
de albertino que se ria de francisca que se ria de
tobias que se ria de cristina que se ria
de afonso que se ria de antónio que
se ria de baltasar que se ria de ana que se
ria de mariana que se ria de marília que se ria
de andré que se ria de fernando que se ria de joão.

quando todos se calaram era já noite
e passou-lhes por cima um camião cisterna cheio de vinho
que vinha com as luzes apagadas.

ficou apenas fernando. mas esse
coitado
agora já não tinha ninguém de quem rir.



António Vitorino
Debaixo do Bulcão poezine
número 34 e meio - Almada. Dezembro 2008
(Ilustração de Jorge Feliciano)

terça-feira, dezembro 23, 2008

Debaixo do Bulcão, número trinta e quatro e meio, edição especial uma dúzia de anos!


Este projecto fez 12 anos e, para comemorar, realizou mais uma edição, desta vez (e excepcionalmente) só com autores convidados.
Por ser uma edição pequenina (com 12 páginas apenas) não chega a ser um número completo: é o trinta e quatro e meio.
Ficha desta edição:
Textos de Afonso Gallo, Z.BTTA, BB Pásion, Minda, Miguel Nuno, António Boieiro, António Vitorino
Paginação e ilustrações de Jorge Feliciano
(e um agradecimento especial à Ermelinda Toscano)
Enviamos, via e-mail, as maquetes digitalizadas desta edição (para vocês imprimirem em casa).
pedidos para debaixodobulcao@netcabo.pt

sábado, dezembro 20, 2008

Um novo colectivo poético almadense: Jovens Poetas Vadios

Depois do Debaixo do Bulcão e do grupo Poetas Almadenses, Almada tem mais um colectivo poético. Chama-se Jovens Poetas Vadios (http://jovenspoetasvadios.blogspot.com/) e fez a sua apresentação pública na Biblioteca Municipal de Almada, durante a sessão de "poesia vadia" de Dezembro.

Têm como objectivo assumido "despertar em outros jovens a vontade de ler, escrever, ou simplesmente gostar de poesia" e "incentivar outros jovens poetas a manter viva esta arte de escrever".
Na apresentação do projecto lançaram também uma edição, em nome próprio, dos cadernos de poesia Index Poesis (caderno nº 72), com textos de Sandra Marisa Gonçalves Gomes, Pedro Esteves, Dummador, Akul Ekulf, Fábio Queirós, Alexandre Soares, Nelson 'Ngungu' Rossano, João de Matos, Ramires, Didier Ferreira.

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Poesia vadia, sábado, na Biblioteca Municipal de Almada


Biblioteca Municipal de Almada
Sábado, 20 de Dezembro, 17h30
Sala de Adultos


A próxima sessão de poesia vadia (evento mensal organizado pelo colectivo Poetas Almadenses) vai realizar-se sábado no Fórum Municipal Romeu Correia. E, por estarmos na época do Natal, os organizadores prometem «uma sessão de poesia vadia e cantares de Natal animada pelos Poetas Almadenses, com a presença da poetisa Rosa Dias e o Grupo das Cantadeiras da Alma Alentejana».

Além de de tudo isso haverá (prometemos nós) a distribuição de mais um Debaixo do Bulcão poezine: número 34 e meio, especial e comemorativo do 12.º aniversário deste projecto!

segunda-feira, dezembro 15, 2008

reabertura do blog aranhiças & elefantes


dia 15/Dezembro/2008, 2ª F

REABERTURA do blog aranhiças & elefantes!


Depois de uma drástica sabáStica eis-nos de volta à selva, dizemos, blogosfera.

Visitem-nos! ESCANGALHEM-NOS!!! Comentem-nos! Critiquem-nos!
Depois do blogger.com, agora as aranhiças & elefantes estão no youtube!!!vejam os animais em exposição, a.k.a performances poéticas a & e. (escusado será dizer que o próximo passo é consti(poetic)ar o mundo - muahahah)

aguardamos a vossa presença!obrigada!
abranhaços e trombeijos
http://www.aranhicaselefantes.blogspot.com/

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Por: ali



...onde todos os lugares se juntam
Onde o olhar se acerca do amor (... que palavra feia!)
Olhamos ternos aquilo que queremos com querer


O olhar debruça-se finalmente por
Sobre a vontade de amar... acima de tudo


E então olho o céu; e o céu olha-me
Já um pouco cansado... lembro-me:
Sou um adolescente velho


O olhar debruça-se finalmente por
Sobre a vontade de amar... acima de tudo


... dou mais meia-volta e vou-me




José João Mota


Debaixo do Bulcão poezine
Número 7 - Almada, Dezembro 1997

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Para que tudo pudesse ser





Para que tudo pudesse ser
Ser como dantes
e dantes, às tantas
não seria diferente?
Diferente como antes
e tantas vezes distante
que não saberia o que fazer
para que tudo pudesse ser.


Paula Cristina

Debaixo do Bulcão poezine
Número 1 - Almada, Dezembro 1996

zero um um zero um um


01


álea de cimento.vegetação coerente

os olhos estão fixos na ravina
minha precária materialidade.
espelho turvo. a face exposta a todos os perigos

altercamos com a palavra dos vermes,
súbito silêncio.

10

dez vezes te resgatei a pele e no entanto
nenhuma destas pedras chega para
compensar o vício da ficção científica que absorves
às cinco e meia da tarde para fugir à tentação
da verdadeira molécula do cio.

11

desculpa-me pequena ave de rapina
a cidade é difícil para verter literatura
enquanto
álea de cimento. vegetação coerente com

o teclado em que aprendeste a simular a guerra.


António Vitorino

Debaixo do Bulcão poezine
Número 1 - Almada, Dezembro 1996

sexta-feira, dezembro 05, 2008

"SENTEM-SE ESPASMOS" - Camilo Pessanha



Sentem-se uivos na
montanha mágica. Ouvem-se
os silvos suspirados dos
ventos húmidos. Sabem à
metamorfose da alegoria rica
em conteúdo transcendental.
Sabem ao sal do sumo
sanguíneo, fluxo gostoso que
me queima no
toque solto.
Ouvem-se murmúrios na
voz rasgada, gemidos assusta-
dos perante a força da
descarga limpa.
Ouvem-se gritos anafados
dum ódio de sentir calado.
Sentem-se rumos floreados
pela imensidão do
firmamento ímpar.

Gabriel

Debaixo do Bulcão poezine
Número 7 - Almada, Dezembro 1997

no sorriso do nada, nada vi
no choro do todo, tudo vi
tentei me lembrar do nada, não consegui
tentei me esquecer do todo, tudo lembrei.
depois lembrei-me: estas palavras saíram do nada!!!
então aí queria tudo ver e aí vi que:
no nada vi um sorriso, que nada viu no sorriso do todo
já agora o todo é dotado de não ver nada.

Z. BTTA

Debaixo do Bulcão poezine
Número 7 - Almada, Dezembro 1997

"Eu" sou "assim"




Que seria "eu" sem "mim"?
Aquela força interior que "eu" sinto, parte de "mim".
Aquela brisa que vem do infinito e que renova
o espírito de viver, sou "eu"!

Sei que não posso viver sem "mim"
porque "eu" sou assim!
Sou tudo, sou nada,
sou talvez "eu".
Mas quem vier a "mim" vai descobrir que "eu"
sou a força da natureza
que, com a sua omnipotência,
faz com que "eu" seja feliz!

Felicidade essa que "eu" não entendo,
porque para "mim" ser feliz,
é viver como "eu" sou!

Que há em mim um lado completamente puro e ingénuo,
em que ninguém acredita.
Pois por esse motivo, a "mim" só me interessa
que "eu" seja "eu",
e compreenderão o porquê de "eu" ser "assim"!!!


João Parente




Debaixo do Bulcão poezine
Número 7 - Almada, Dezembro 1997
(Fotografia e grafismo de António Vitorino)

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Poesia Vadia, sessão de Novembro 2008


Fotografias, de Rui Tavares, disponíveis no blogue Almada Cultural (por extenso):
E de Ermelinda Toscano, no blogue do projecto Poetas Almadenses:

Essência da conquista




Na magia da vida
Sonha a beleza
Embalando nas oportunidades
A esperança acolhida

O dançar das emoções
Identifica a ausência
Encantando a natureza
Silencia a razão

A imaginação reanima
Fazendo a diferença
No encontro da felicidade
Sobrevive da igualdade.

Eloísa Menezes Pereira
08/06/2008
Debaixo do Bulcão poezine
Número 34 - Almada, Outubro 2008
(Imagem trabalhada a partir de uma fotografia de Rui Tavares)

terça-feira, dezembro 02, 2008

PALAVRA INDOMÁVEL


Um fogo ilimitado
se espalha
pelo ar descuidado.

Tiro a chave da porta.

A temperatura da água
ferve em fuga sobre a pele.

O café está pronto.

O raio magnetizado
percorre
o cobre sem fita isolante.

Açúcar ou adoçante?
Mel...

Goteiras inundam os poros.

Arranco as tomadas
na tempestade e escrevo meu romance
numa folha de papel.

Sorvo café com amor, desligo o computador
e me ligo numa alternativa... Fonte de energia.



Madalena Barranco
Registro na FBN/EDA

Debaixo do Bulcão poezine
Número 34 - Almada, Outubro 2008

http://flordemorango.blogspot.com/