sexta-feira, junho 29, 2007

Convite



Poesia vadia e apresentação da edição 30 deste poezine,
Podem encontrar mais informação sobre as sessões mensais de "poesia vadia" no blog
Poetas Almadenses

quinta-feira, junho 28, 2007

Tormento

Atormenta-te o temor
Desse tumor que é o tempo
Esta teia que te tece
Até no túmulo tombares.

Tu e todos os teus eus.


Mário Lisboa Duarte
Debaixo do Bulcão poezine
nº 30 - Almada, Junho 2007

Blog do autor:
Margem D'Arte

Fotografia de Rui Tavares
para
Debaixo do Bulcão 30
(Junho 2007)

A execução do velho Marte

(... pelos idos do março)

Extenso volta o
velho marte às
vias que tomam
dolo do dito da
terra roubada,
assolada.

Alto ruge a
sua cólera
contra feita
do sangue
posto
entre o cruzar
das estações
de marte,
que vai tifo,
e fá-lo hábito.

Na hora
alinhada
o eco chega
e diz o nome
distinto que
funda-o ;
velho esboço,
no meio da
simetria

Vacilou, caiu,
uivou o velho
antigo, ali,
entre o cruzar
das pontes do
março, cheio
da simetria
desfeita a
golpes de
integração.

...

foi deste integrar
de tal ver da terra
o referir da marca
que funda os dias.



NunoRocha07
Debaixo do Bulcão poezine
Nº 30 - Almada, Junho 2007

sexta-feira, junho 22, 2007



O anjo da água e do ar, da terra do fogo e do éter
Estava acima da fome e dos desejos
Primários. Anjos são os cetáceos no mar.
Anjo é pensar em sê-lo e nunca ceder.
O risco é um sorriso de certeza.
É pensar não duas vezes, mas apenas uma vez
Comer luz, respirar água, absorver
Terra e com a música e cor organizar
O jardim dos amantes.
Os nossos amigos nunca tiveram ferramentas
Apenas gestos felizes, tal como o
Vento nas dunas da praia universal.



Dexsapho
Debaixo do Bulcão poezine
número 15 - Almada, Junho 2001

terça-feira, junho 19, 2007

Punhal celeste



Amordaçado por correntes
Nas nuvens de serpente
Entre grades entre gentes
Levaram-te...
Para a sala dos troféus
Onde te fitaram
Vidas vencidas
Ilusões esquecidas

E o punhal celeste dançou e riu

Agarraste a minha alma
E não a quiseste largar
E eu, exorcizo a tua imagem
Cá dentro de meu ser
A tua imagem
Cá dentro de meu querer

E o punhal celeste dançou e riu



Lino Átila
(sim, o vocalista dos Noctivagus)
em Debaixo do Bulcão poezine
número 19 - Almada, Julho 2002

sexta-feira, junho 15, 2007

Lisboa do passado

Correm as águas do Tejo cintilantes
Onde as gaivotas pressentem vendavais
Tudo em Lisboa já não é o que era dantes
As andorinhas já não cantam nos beirais

Já não se vêm sardinheiras nas janelas
E nas vielas já não se canta o fado
Caminhando pelos becos e ruelas
Vê-se Lisboa tão diferente do passado


Terra de Marialvas e Senhores
Das serenatas e do fado à "meia porta"
Onde estão os teus amantes... teus amores?...
Hoje sem eles, Lisboa... "és letra morta"!...


Maria de Lurdes Ferreira

(poema inédito)

quinta-feira, junho 14, 2007


Pelo acaso verdades são deixadas,
tornam-se fantasmas abstractos e vagos
que aparecem à noite nas encruzilhadas.

Revelam-se vazios por preencher,
personagens que já não existem
que correm desesperadamente para Ser.

Como sair de um monólogo interior?
Somente eu, fico neste aqui,
neste desafogo silêncio embriagador.

Tendências malditas que aumentam,
monstros desenhados pelas culpas,
tintas entornadas que dispersam.

Palavras e entoações inúteis,
tão tristes cansadas de existir,
tornam-se telas ou poesias fúteis.

Olhares vazios para o Mundo.
Abismos, nadas e mais nadas.
Infinitos, vagueando no Profundo.

Como sair do monólogo interior?
Somente eu, fico neste aqui,
neste inquietante silêncio traidor.



Helga Rodrigues
(Texto e ilustração)

Debaixo do Bulcão poezine
número 26 - Almada, Junho 2004

quarta-feira, junho 13, 2007

O pecado do sul

Nunca o mar invade a fertilidade
de todos os dedos
de um papel branco de lágrimas
nem contam as rochas os segredos de sons
nem dormem olhos nem gritos
nem metal de orgasmos azuis

Morrem esquinas e cães
de uma lua grávida
morrem suspiros de ar
gatos de cios cinzentos
sem mar nem lua
morrem na noite oblíqua dos telhados
que caem vermelhos de estrelas


Maria Cannin

Debaixo do Bulcão poezine
número 15 - Almada, Julho 2001

Mar

Só me apetece o mar.
Só se lembrava que lhe apetecia o mar,
só lhe apetecia lembrar o mar,
que lhe lembrava e apetecia...
Só desejava o mar,
que lhe lembrava,
entre vagas de dias,
que (não) lhe apetecia a vida?!...


João Adan
Debaixo do Bulcão poezine
número 15 - Almada, Julho 2001

segunda-feira, junho 11, 2007

Camões,

As palavras, a espada e os amores
deram-te um bilhete para o mundo
ao lado de marinheiros e navegadores
e alimentaram a tua alma de vagabundo

O oceano lavou-te a alma e o coração
numa longa caminhada para Oriente
distante da calúnia, inveja e perdição
ao encontro de gente muito diferente

No meio da viagem surgiu-te a inspiração
após um encontro profético e assustador
em que surgiu no meio do mar triunfante
um gigante a quem chamaste de Adamastor

É assim que começa a tua aventura literária
onde relatas o mundo português
exactamente como o vês

Quando regressas ao nosso país
os eruditos desvalorizaram a tua obra poética
Que se imortalizou, tal como tu, de uma forma épica...


Luís Milheiro
(em Index Poesis, colectânea de poesia
coordenada por Ermelinda Toscano)

Blog do autor:
casariodoginjal.blogspot.com

sexta-feira, junho 08, 2007

Investir na leitura, é dar formação ao povo...

No Egipto, as bibliotecas eram chamadas “Tesouro dos remédios da alma”. A importância dada à leitura era, para os egípcios, algo de muito precioso na formação intelectual e social do seu povo.
Ao reflectirmos sobre as políticas que têm sido implementadas no nosso país, facilmente chegamos à triste conclusão que não será fácil afastarmo-nos do pódio dos países europeus com menores índices de leitura.
Segundo a APEL – Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, editam-se por mês mil livros, sendo na sua maioria edições de autores ou de instituições que sequer chegam ao mercado do livro.
Ao sermos artífices da escrita e também, por vezes, editor das nossas próprias obras, julgamos que tudo isto se deve à difícil acessibilidade por parte dos escritores menos mediáticos ao obscuro e até, por vezes, pantanoso circuito editorial.
Para o mercado, é mais vendável um livro da chamada literatura “cor de rosa”, do que um livro de poesia ou um ensaio sobre história local. Ou seja, é preferível encher os escaparates com “livros ocos” das vedetas do Big-Brother, ou da Quinta das Celebridades, do que pôr à disposição dos leitores obras de utilidade para a sua formação.
Este conceito leva-nos ao pensamento do filósofo alemão Friedrick Nietzsche que a respeito da importância dos livros, dizia: “Os leitores extraem dos livros, consoante o seu carácter, a exemplo da abelha ou da aranha que, do suco das flores retiram, uma o mel, a outra o veneno”.
O incentivo à leitura, passa por um permanente investimento na preservação das próprias raízes históricas e na restruturação dos conceitos de políticas de apoios, não se esquecendo os mais jovens leitores.
A urgente existência de bibliotecas em todas as escolas do ensino primário, onde para além dos autores portugueses curriculares, deveriam também ter um espaço destinado às obras de cariz local, importante fonte de cultura e saber.
Nesta última vertente, é digno o contributo de algumas autarquias – caso do nosso município – que mesmo sendo vítimas de cortes na “Lei das Finanças Locais”, têm desempenhado uma importante contribuição à leitura e à divulgação de novos valores, com o apoio e edição de obras de autores locais.
Creiam caros leitores, que ler é fazer amigos, rodearmo-nos de pessoas fascinantes, a quem se tem acesso sem bater à porta; bastando apenas que voltar uma página e emergir no imaginário mundo da escrita e quem sabe se a partir desse momento, não iniciamos uma nova era na nossa vida.

Artur Vaz
Escritor e jornalista almadense

(Crónica publicada no semanário
"Notícias de Almada")

quarta-feira, junho 06, 2007

Minha Voz (Luiz Alberto Machado)

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Poema de Luiz Alberto Machado inserido no livro "Primeira Reunião". Recife: Bagaço, 1992. www.luizalbertomachado.com.br
Edição LD Informática

segunda-feira, junho 04, 2007

Um conto em ponto



Finalmente o autocarro chegou!...

Vem apinhado de gente. Entrei, mas não consegui ir além do condutor. Fiquei ao lado dele, deixei-me admirar e permiti-me sonhar com todos aqueles botões e mostradores cheios de números, daquele rico tablier. Os autocarros públicos têm botões para tudo, e luzes que avisam os botões sobre o estado de espírito do velho motor. É um ecossistema falível, mas deliciosamente perfeito...

À medida que os meus olhos desenhavam esta viagem pelo tablier do autocarro, fui reparando e retendo uma constante que marcava com persistência o percurso do meu olhar.

- “Sai às 5h”.

Esta frase repetia-se e espalhava-se atrevidamente por todo o tablier, ora acompanhando com graça as formas redondas dos botões; ora enchendo um qualquer espaço vazio no meio daquele enrendilhado eléctrico, um autêntico croché de circuitos vivos... ainda dizem que os homens não são prendados...

Repetiam-se sempre as mesmas palavras sem descanso, na paisagem do tablier. Da planície negra e fria gritavam frenéticas as letras desenhadas a branco, que pareciam agora impor uma verdade, como que uma máxima filosófica de uma qualquer organização secreta, infiltrada, subliminar, obscura, poderosa, vigorosa, secreta, mítica, secreta…

O transito circulava lento, e antes de ter reparado já estávamos cercados de carros e carretes cheios de vontade de chegar… onde? Para quê?... Chegar chega, apenas. Estamos no meio da bicha, e devagarinho lá vamos percorrendo mais 100 metros - menos 100 metros para o fim.

PARÁMOS!!!?!…

De repente o Sr. Condutor pára impiedosamente o autocarro, sem pensar na estrada, nas pessoas que esperam pessoas em casa ou nos carros do caminho.

O Sr. condutor aguardou um momento, sereno e confiante. Entretanto já se tinha formado atrás de nós uma bicha maior do que aquela que nos esperava à frente. Já estávamos sem dúvida a empatar…

Ainda com a mesma frase pintada na memória a latejar-me na ideia já confusa, e num acto de puro impulso inconsequente, vejo sair-me da boca num vómito compulsivo, insolente e quase provocador, a pergunta:

- “Sai às 5h?...”

Com isto, o homem levanta-se e sai violentamente do autocarro, abandonando tudo e todos com a incógnita surpreendente de tão inesperada acção.
No meio do silêncio que se vestiu e da pergunta, olhei sorrateiramente para o relógio… Marcava precisamente 5 horas. Em ponto!


Catarina Henriques (texto)
Miguel Seixas (ilustração)

sexta-feira, junho 01, 2007

A história mal contada da menina cara de balão















o meu corpo começa onde o teu acaba

os contornos da história do espaço fazem
a composição;
ouve-la destruir-se para contrair o corpo?
o bloco
que se encaixa no tempo e no espaço, na batalha do lugar, na areia da água
onde as palavras não significam
o encaixe:
éramos uma grande família - o meu corpo e eu.
faz tempo
que os prazeres do invisível já não mentem nas telas de cinema;
agora,
que o sonho nega o colo do sono,
queria entreter-te-me,
contar-te histórias... histórias que não tenho,
roubo as outras, aquelas com quem nunca dormi,
e delas faço-te-me.
a viagem (durante):
o homem que inventou o relógio reconheceu a falta
de estar ontem, hoje e naquele instante;
em segredo, lambo-lhe o nariz.
eram apenas duas pernas sob dois pés sob um chão de manteiga e lá fora
o mundo,
perdendo o ar.
o encaixe deu-se dentro de casa,
onde sempre estiveram as peças da espera.

...Alice que não acorda do meu corpo... quis entrar e comer-lhe o sorriso: uma história minha.


Ângela Ribeiro (poema e ilustração)
angela-ribeiro.blogspot.com
(publicado em Debaixo do Bulcão poezine
número 22 - Almada, Julho 2003)