quarta-feira, setembro 24, 2008

Debaixo do Bulcão 34 - textos até 5 de Outubro!


O Debaixo do Bulcão poezine, número 34, sai no próximo mês.
A data-limite para envio de textos é
domingo, 5 de Outubro.
Podem enviar poesia ou prosa (textos não muito extensos) para
debaixodobulcao@netcabo.pt
(na imagem: pormenor da capa do poezine número 10, Setembro 1998 - desenho de Pedro Alves)

terça-feira, setembro 23, 2008

Poesia Vadia regressa no próximo sábado


Depois das férias, a Poesia Vadia está de regresso.

É já no próximo sábado. Dia 27, a partir das 17h30m.
No Café Les Bistro, em Almada.

Aparece.

E trás um amigo (ou vários, porque a casa chega para todos).

Saudações poéticas


Poetas Almadenses - http://poetas-almadenses.blogspot.com/
(Almada... a poesia está na rua!)

sexta-feira, setembro 19, 2008

Soneto para ursos

não pares; deixa ir o desvario
das lágrimas que o mar irão salgar.
é esse o sal dos olhos, o penar
na tristeza do inverno, duro e frio.

mas por força de lei, fatal natura
teu amargo hibernar acaba agora:
não pares pois chegou a nova hora
vai ao pote de mel, o amor perdura.

e enquanto o doce alimentar o cio
não te queixes, ursinho, a vida é breve
(dois dias de alegria, outro de azar)

balouça, brinca a prumo nesse fio
arvora-te no ar, de ânimo leve;
inspira, bebe, deixa de pensar.



Affonso Gallo

(affonsogallo.blogspot.com)

Debaixo do Bulcão poezine
Número 5 - Almada, Setembro 1997

quinta-feira, setembro 18, 2008

Alguém






Houve um dia, em que alguém existiu, deixou
marcas que seriam reconhecidas.
Isolou-se, maltratou o seu corpo.
Abafaram-se gritos perdidos, no escuro de um
quarto velho, onde só já existem paredes com
reflexos de sujidade, e onde existiu em tempos
vidros quebrados das janelas, hoje não existe
abertura para o exterior.
Pelo chão, vestígios de raridades que deram
algum significado a vidas, a corpos diferentes.
Realidades essas, que foram a razão da
existência de alguém.
Alguém que esqueceu a procura, a novidade.
Isolamento é uma opção feita por uma saturação
das fobias, esgotadas as ideias que um dia seriam
desinfectadas.
Houve um dia que não existiu, de alguém que não
se maltratou, de alguém que não se isolou, no fim
não se matou.
Até... talvez não...





Lélé



Debaixo do Bulcão poezine
Número 5 - Almada, Setembro 1997

Que será a flor vermelha?


A flor vermelha
Cortada de uma garganta.

Criada num monte de torrões
Com uma estaca cravada.

Alimentada num fogo
Incandescente de um vulcão!

Brilhante, viçosa
Embebedou muita gente
O seu veneno inebriante.

Agora murchante
Decadente
Avista o fim de um modo.

Enquanto uns morrem
Ele ri, gargalhadas estridentes
Justiça, mata-se a hipocrisia!

A flor sorri-lhe
Promete-lhe voltar
Num dia sozinha.


Ana Monteiro


Debaixo do Bulcão poezine
Número 10 - Almada, Setembro 1998

segunda-feira, setembro 15, 2008

Alegoria do terraço




se eu subir a este alto paradeiro
acender um cigarro e apenas em silêncio
olhar
digo que estou só no verdadeiro topo da cidade.


no entanto
outros sobem a mais altos paradeiros
e (assim como eu) acendem o olhar
e olham


esse desordenado na essência formigueiro
esse bulício borbulhento da cidade
& toda essa raiva
comentada e revista por dédalos de cafeína




António Vitorino


Debaixo do Bulcão poezine

Número 5 - Almada, Setembro 1997

(Capa e paginação de Luísa Trindade)

quarta-feira, setembro 03, 2008

Armindo Rodrigues: dois poemas e uma homenagem



Liberdade

Ser livre é querer ir e ter um rumo

e ir sem medo,
mesmo que sejam vãos os passos.
É pensar e logo
transformar o fumo
do pensamento em braços.
É não ter pão nem vinho,
só ver portas fechadas e pessoas hostis
e arrancar teimosamente do caminho
sonhos de sol
com fúrias de raiz.

É estar atado, amordaçado, em sangue, exausto
e, mesmo assim,
só de pensar gritar
gritar
e só de pensar ir
ir e chegar ao fim.


Armindo Rodrigues



Cavalgada

Já rebentei de correr
Sete cavalos a fio.
O primeiro era cinzento
Com sonhos de água sem fundo
E cor do norte o segundo
Com ferraduras de prata.
O terceiro era um mistério
E o quarto cor de agonia.
O quinto, de olhos em brasa,
Era só prata e espanto.
O sexto não se sabia
Se era cavalo, se vento.
Corria o sétimo tanto
Que nem a cor se lhe via.
Quanto mais ando mais meço
As distâncias que há em mim
Cada desejo é um fim
E cada fim um começo.

Armindo Rodrigues




Armindo José Rodrigues (Lisboa, 1904 – Lisboa, 8 de Agosto de 1993), foi um médico, tradutor e poeta português.

Armindo Rodrigues que se formou em Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, é considerado um escritor do movimento neo-realista português. Grande parte da sua infância foi passada no Alentejo.

Colaborou em diversas revistas como a Colóquio-Letras (da Fundação Calouste Gulbenkian), a Seara Nova, a Vértice e em jornais como O Diabo e Notícias de bloqueio.

Tendo vivido durante o regime salazarista, e tendo ideias contrárias ao regime vigente, foi por diversas vezes preso. Na sua luta contra o fascismo, pertenceu a diversas organizações clandestinas. Participou nas campanhas
eleitorais de Arlindo Vicente e de Norton de Matos, nos anos 1945, 1949 e 1958.


Armindo Rodrigues fez parte do Movimento de Unidade Democrática (MUD).
Foi um dos fundadores do PEN Club Português, juntamente com outros escritores portugueses de renome, tendo sido nomeado vogal.

Fez traduções de autores como André Malraux, Alain-Fournier, Mikhail Cholokov e Oscar Wilde

(Fonte: Wikipédia)


Armindo Rodrigues vai ser evocado este ano na Festa do Avante: num colóquio a realizar sexta-feira (5 de Setembro) às 21h00, no Café-Concerto de Lisboa.