sexta-feira, março 29, 2013

continuamos dançando
gozando
na maior sinfonia

continuamos amando
vamos!
Caronte, São Pedro!

o que significa pra mim?
continuamos tocando
palmas na cripta, vida

continuamos dançando
nas cinzas
de amor e alegria

aqui do camarote
humanos!
já pagamos, pagãos!

em nossos ovos de mirra
continuamos brilhando
palcos de línguas, vidas



Edson Pielechovski

Debaixo do Bulcão poezine
N.º 41 - Março 2013

Uma alma cigana

Mulher de alma cigana
Teu bailado é de encantamento
Nos captura em tua caravana
Não revele já teu intento.

Pelo espelho surge um Ser
Numa imagem sete vezes repetida
Ousadamente nos vai prender
Nesse elo de ligação sentida.

Vem Senhora do Raio
A transmutar nossa energia
Tanta atração é como ensaio
Para o mistério da magia.

Na dança de pés descalços
Provocando os desejos
Desatam-se mil laços
Soltam-se gracejos.

Moça que é estrela cigana
Tua sedução é natural
A paixão te faz soberana
Doce feitiço, um tanto fatal.
                                                      

Mônica Quinderé

 Debaixo do Bulcão poezine
N.º 41 - Março de 2013


terça-feira, março 26, 2013

O Discóbolo de Míron

Clássico entalhe da anônima
vitória.
E a icônica arte confinada
no plano altar, transita
(plena) em ângulos di-
versos, em versos angulares, re-
versos independentes. Além
da vista, sob pontos e pontes,
vomita
a estética postura do disco (movi-
mento que precede o lança-
mento). Onde a cinese ganha
distância, com a força
mítica
do músculo perfeito, me lanço
ícone
da (es)cultura anatômica.
Até ao limite da parábola
construo um poema harmônico
: mente e corpo e palavras vivas.
Vividas. Vivo agora, dentro e fora,
a descrever a pose e o
pós.

Sidnei Olívio

Debaixo do Bulcão poezine
N.º 41 - março 2013

Excelentíssimos Estupores













A sanha do poder torna-os sedutores
Além das gravatas de todas as cores,
Distribuem rebuçados de vários sabores
Canetas beijos e sorrisos encantadores,
Porque no final querem sair vencedores.

A vitória floresce a troca de favores
Quase que parecem mercadores
Nos muitos jogos de bastidores
Em que são autênticos doutores
No seu notável papel de impostores.

Denunciados pelos comentadores
Fixam o sorriso amarelo nos televisores
Agarram a cartilha dos ditadores
E deixam cair a máscara de fingidores
Os excelentíssimos estupores.


Luís Milheiro


Debaixo do Bulcão poezine
N.º 41 - março 2013

(Imagem: arte urbana numa parede de Lisboa, 2010)

Manifesto Anti Esta Gente (tomado de empréstimo a José de Almada-Negreiros, Poeta d'Orpheu, Futurista e Tudo)

Basta pum basta!

Uma geração que consinta deixar-se representar por Esta Gente é uma geração que nunca o foi.

Abaixo a geração!

Uma geração com Esta Gente à proa é uma canoa em seco! Saberão gramática, saberão sintaxe, saberão TUDO menos exercer o Poder, que é a única coisa que fazem!

Eles são habilidosos!

Eles especulam!

Morram eles todos, morram! Pim!

E têem claque! E têem palmas! E agradecem!

Não é preciso disfarçar-se para ser salteador, basta ser como Esta Gente! Basta não ter escrúpulos nem morais, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas e com as opiniões! Basta usar o tal sorrizinho, basta ser muito delicado e usar olhos meigos!

Morram eles todos, morram! Pim!

Nasceram para provar que nem todos os que governam sabem governar!

São autómatos que deitam cá para fora o que a gente já sabe que vai sair... mas é preciso deitar outra coisa!

São escárnios da consciência!

São a vergonha da intelectualidade portuguesa! São a meta da decadência mental!

E ainda há quem não core quando diz admirá-los!

E ainda há quem lhes estenda a mão!

E quem lhes lave a roupa!

E ainda há quem duvide que não valem nada e que não sabem nada e que nem são inteligentes, nem decentes, nem zero!

Mas julgais que nisto se resume a política portuguesa? Não! Mil vezes não!

Morram eles todos, morram! Pim!

Portugal, que com todos estes senhores conseguiu a classificação de país mais atrasado da Europa e de todo o Mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-de abir os olhos um dia e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que tem de ser alguma coisa de asseado!

Morram eles todos! Morram! Pim!

Zé Carlos
Português do século XXI
Progressista e tudo!
2011

Debaixo do Bulcão poezine
n.º 41 - março 2013
(Ilustração: grafiti na Festa do Avante! 2012, Espaço da Juventude)

domingo, março 24, 2013

Aqui d'El-Rei das baratas

Em horas que já lá vão,
momentos gritantes de aflição,
a minha avó velhinha me dizia:
«Afastar baratas só fortemente bramindo
de janela bem aberta» - quem diria!

Ecoando sentido “aqui d'El-Rei!”,

o das baratas (o porquê não sei),
largavam tudo e debandavam.
Era vê-las trepando canos acima
e noutros lugares onde amontoavam!

Dizem-se nutritivas, comestíveis,
na verdade, ainda menos digeríveis
num impacto de grande radiação.
Pois venha a bomba atómica,
que já reclamam o apetite desta Nação...


Acredito ser caso de infestação nacional,
e se por acaso dominarem Portugal,
gritai agora “Aqui d' El-Rei das baratas!”.


Fogem tontas em passos perdidos,
deste fosso onde andamos metidos.




Rui Rocha



Debaixo do Bulcão poezine
nº41 -  março 2013

Viagem sem regresso marcado

Pela janela avisto a asa do avião…
Viajo leve, errante,
Com pouco mais do que um ponto de interrogação.
Assumindo a minha nova condição de emigrante,
Vejo-me obrigado
A deixar para trás o coração,
Impossível de ser acomodado
Na bagagem que seguiu para o porão…
Abandono a herança de um país pessimista,
Que por culpa própria abdicou do direito ao progresso
E que agora se despede de mim com um sorriso trocista
Deixando na minha mão um bilhete sem regresso…
Em tempos foste porto seguro em mar aberto,
Terra prometida para sonhos imaginados…
Hoje em dia és apenas um deserto
Onde jazem os feitos dos teus antepassados…
Deixaste-te enfeitiçar pela inebriante fragrância
Que exala da cadeira do poder,
E sucumbiste à voraz ganância
De secar a teta que te dava de beber…
Os abutres que te comeram o recheio
São os mesmos que agora de papo cheio,
Vêm bicar os olhos a quem tenta
Rapar os ossos da carcaça fedorenta…
E os descendentes do povo que conquistou o mar
Embarcam agora em nova epopeia.
Mas já não é sede de descoberta o que trazem no olhar…
O que os move é a apenas a ideia
De, com um mínimo de decência,
Poder para si próprios reclamar
O direito a algo mais do que a mera sobrevivência…
Uma necessidade tão orgânica e tão real
Como as lágrimas que me escorrem de forma incessante
Quando pela janela do avião vejo a ficar cada mais distante
O país que deixo para trás, Portugal…



André Fonseca


Debaixo do Bulcão poezine
nº41 -  março 2013



Memória Descritiva

Deixa-me ficar na minha redoma de vidro
onde anseio a eternidade fatal!
Vou disputar com Vénus motivos efémeros
para conquistar o verde e não por mal
juramos ser eternos
para o mútuo agrado que talvez partilhemos!
 

E em troca? Ofereces-me o silêncio
Eu nunca esperei menos!
Desenho-te com a luz da minha super 8
Face pálida e amarga
Carrego frames com esperança
De te ouvir uma palavra!
 

Mas esta cena nem tem diálogos!
Se os tivesse seriam censurados!
Eu mesma os teria cortado!
 

Porque a beleza mais pura
Não precisa de descrição
que interessa o motivo e a obra
se ele se eleva ao guião?
Seria a película mais bem gasta,
um plano longo que não acaba
Fechado na sua cara
Só suspira com a tensão.
Ele olha directo para a câmara
como quem desaprova.
Não quer ser arte,

A palavra incomoda!


Sílvia Cunha

Debaixo do Bulcão poezine
nº41 -  março 2013

Incógnita visita









E no fim
A armadilha atrai-nos
Entre luzes e sombras
Em direção às chamas


E no fim
Incógnita visita
Mundo com pressa de chegar à ruína
Volupias de carnificina


E no fim
Livre de toda a dor
Friamente iluminado
Seguras a lâmina de uma flor


Lino Átila

Debaixo do Bulcão poezine
nº41 - março 2013

(Ilustração: desenho de Sturrefsit Adjukaatrix)

segunda-feira, março 18, 2013

3ª Festa da poesia de Almada

No decorrer deste evento será distribuída a edição 41 do Debaixo do Bulcão Poezine.