quinta-feira, janeiro 04, 2007
Eis, Abu Bacre, saúda os meus lares em Silves e pergunta-lhes
se, como penso, ainda se recordam de mim.
Saúda o Palácio das Varandas da parte de um donzel
que sente perpétua saudade daquele alcácer.
Ali moravam guerreiros como leões e brancas gazelas,
e em que belas silvas e em que belos covis!
Quantas noites passei divertindo-me à sua sombra
com mulheres de cadeiras opulentas e talhe fatigado.
Brancas e morenas que produziam na minha alma o
efeito das espadas refulgentes e das lanças obscuras!
Quantas noites passei deliciosamente frente a um
recôncavo do rio com uma donzela cuja pulseira rivalizava com a curva da corente!
O tempo passava e ela servia-me o vinho do seu olhar
e outras o do seu vaso, e outras o da sua boca.
As cordas do seu alaúde feridas pelo plectro
estremeciam-me como se ouvisse a melodia das espadas nos tendões do colo inimigo.
Ao retirar o seu manto, descobriu o seu talhe,
florescente ramo de salgueiro, como se abre o botão para mostrar a flor.
Al Mutamid (rei de Sevilha, natural de Beja, século XI)
(Publicado em Debaixo do Bulcão nº16, Janeiro 2002)
Mais sobre Almutamid:
Guia da cidade de Silves
Islam y Al-Andalus: Andalusíes Ilustres
Saudi Aramco World: The Poet-King of Seville
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