segunda-feira, maio 21, 2007

Rosa flagrante

"...Porque Resulta..."
(Miquel Àngel Riera, in "Antologia da Novíssima Poesia Catalã",
"Perquè Resulta"


Da carne rosa carmim creme
cai a gota de uma lágrima esquecida,
orvalho nas acácias flagrantes.
Sou o benjamim apaixonado.

No quadro aberto da natureza
que treme verde, (re)surge o grito
infinito de um silêncio cortado
no vento quente de Verão,
na frescura de mar.

Tudo flui num movimento perpétuo, na
dialéctica determinista
do acto de consumação vital.
Tudo respira.
Tudo cresce para o fim.
Tudo se esquece no ciclo interminável,
na origem do ser, em rotação estelar.

No fechar apocalíptico do dia
pintado de azul laranja cristal,
sopram as aves sublimes.
Estão de volta ao ninho antigo.
Retorno desejado de um cantar solto.
No assobiar de pássaro admirável
a mente liberta-se em asas
que cortam ar
num voo de sonho.

A carne rosa
liberta a luz de cor nova e os
raios da aurora amanhecida
em branco.

A carne rosa
liberta o perfume de uma raiva por sentir
e os odores caóticos da negação
e do seu intenso acordar.
É um fogo. São as chamas.
É a lava cósmica eterna.

É a lava cósmica eterna.
E é Vénus a chamar...

O vento sopra bruto nessas cinzas,
de onde renasce viva a centelha
que ilumina de rosa
a carne, e a antiga mente próxima.

É do peito que sai, batendo pirómano,
o ápice de calor, garantindo
a certeza com que ardem as mãos.

É da carne rosa, e da boca doce pelo
extracto da pele arrepiada,
que se acende
o foco da radiosa auréola e
estrela incandescente.
Como um ardor cardíaco por arder
até ao fim.

Porque resulta
que é da pele que
toda a estrela é feita


Gabriel '97
(Poema inédito. Mais deste autor em
wiguelnuno.blogspot.com)

Sem comentários: