quarta-feira, abril 22, 2009

25 de Abril




Sensação inútil de desespero,
Faseada com doce loucura,
Intercalada com medo,
Num misto de êxtase e ternura.

Maldita hora em que o provei,
pois sonhei que o poderia domar.

Os corvos abandonaram-nos à chuva,
Na nossa troca de sorrisos e cumplicidades,
Sozinhos na multidão que festejava,
O início de uma nova era, de novas liberdades.

Atravessei o rio que nos separava,
Engoli em seco e avancei,
A responsabilidade,
O peso da desilusão,
Ardia por dentro,
Os sonhos de uma canção.

Amor/fulgor/sabor,
Caminha letargicamente depressa na minha direcção,
Amei-te sem receios,
Como os sonhos de uma canção.

Aniversário inocente,
Desta indescritível frustração,
Vem, pára, olha,
Em mim desabaram os sonhos de uma canção.

Mais uma pétala deste livro,
Que se desmembrou,
Caiu,
Na minha mão.


Jorge Ramalho

Debaixo do Bulcão poezine
Número 25 - Almada, Abril 2004

1 comentário:

Pata Negra disse...

Se este Abril está gasto, façamos outro e, depois outro Maio e outro Agosto...
Devo ter perdido o "estado de poesia" porque só me apetece vir para a rua e gritar!...
Vitorino, estarei sempre com os poetas mesmo que um dia já não os entenda. Gosto de largar palavras ao vento, nã me dou bem com vírgulas e português de escola mas gosto de escrever. Aonde houver poesia, quer seja um velho que fala num banco de jardim, uma criança que canta a primavera e as andorinhas, um livro sem grandes tiragens, uma fotocópia de um gritador maldito, eu estarei lá!
Não tenhas expectativas, nem moderadas nem outra coisa qualquer! tem confiança no Bulcão! Estaremos aqui para o que der e vier!
Um abraço e parabéns pela natureza da iniciativa, do formato, da garra, da origem que estará por trás dela! Ainda que percamos as palavras não perderemos os versos!
Outro abraço