quinta-feira, dezembro 13, 2007

Escrita Maldita


Não mais o não
Derrota violenta
Idealista sem palestra
Anarquista amestrado


A fome arrogante da
Revolução silenciosa
Nas mesas recheadas dos
Livres "pensantes"

Não mais
A cabeça entre as pernas
E o corpo dilacerado
Em monossílabos de infância

Nunca mais
As tetas secas
E a permanência na casa
Estupidamente fria

Nunca mais
As viagens do regresso
E Aida sonolenta
Sem a vontade de descobrir mundos
E sonegar maldições

Às avessas, às arrecuas
Avança trémulo, mas confiante
Na mais pequena liberdade permitida

A tudo se permite
A tudo se vende
Em tudo se reflecte
Sem tudo não acha nada
Nada tem a não ser tudo
Com tudo grita
Em tudo se manifesta
A tudo culpabiliza
Contudo
Não consegue nada

Escrita maldita
Maldita escrita
Nascida do pranto seco da alma
Do silêncio dolorido
Arco-íris sem cores

No silêncio mais surdo
Ensurdecedor silêncio
O grito do universo
Em uníssono

Escrita maldita
Maldita escrita


Falta de rima
Falta de fala
Fala desconexa
Ida e volta
Volta e ida
Viagem parada

Não mais o não
Nunca mais o ímpio infortúnio
Do Cristo sangrento


Imagem maldita

Maldita escrita
Escrita maldita


António Boieiro
Debaixo do Bulcão poezine
Número 31 – Almada, Dezembro 2007

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