quarta-feira, dezembro 13, 2006

Arrastados

Arrastados, sobem as escadinhas que os conduzem para o calabouço onde as torturas são intermináveis. As suas caras lânguidas traduzem a sua infelicidade de quem cataliza mais um dia de trabalho, mais umas horas de esvaziamento de ideais que levaram uma vida inteira a produzir: - «alô, está lá?! É possível falar com o senhor?»; - «Não, não é, não está, nem sei quando será possível falar...»
Um silêncio que é produzido com muitas palavras, aliás, um ruído que é ensurdecedor e amorfo: piiiiiii, piiiiiii.
Falam, falam, falam... «estou muito farto disto», vai contra os meus ideais, destrói a minha criatividade.
Agora sou apenas uma máquina, que se for bem oleada vai falar tanto que vai fazer render muito aos outros. E porquê? A necessidade... o conforto de termos mensalmente um salário nas mãos e afirmarmos o quão proletários somos, «eu não sou burguês», porque eu legitimo a minha classe e a minha condição, o que é ainda mais lindo!


Andreia Egas
(Debaixo do Bulcão 28, Dezembro 2006)

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