terça-feira, dezembro 12, 2006

Adeus

Na esquina da rua onde moravas
Havia um bar
Rodeado de chuva e de vento
Entrámos ao mesmo tempo
E eu senti a tua mão na minha
Olhei para ti
E os meus olhos apertaram os teus
E os teus apertaram os meus
E durante tanto tempo se apertaram
Que eu esqueci a cor dos teus
E tu esqueceste a cor dos meus
Mas não teve importância:
No pequeno quarto com vista para o céu
Recuperámos todas as cores
E estranhamente, quando acordámos
Já não havia chuva

Ainda lá está
O mesmo bar na esquina
Da rua onde moravas
E a tua imagem lá continua
Como se estivesse à minha espera
Mas não me olhas já
Tento tocar o teu cabelo
Mas estás longe
Foi há quanto tempo?
Não sei
Todos os anos volto à cidade
Ao bar da esquina da rua onde moravas
Na esperança de que os teus olhos
fiquem rasos de água
E que esqueças a cor dos meus
E que eu esqueça a cor dos teus
E que depois
Ao despertar
Todas as cores se espalhem no teu
corpo
Todas as cores se espalhem no meu
corpo
Mas
Estranhamente
Sempre chove


João Feliciano

(Debaixo do Bulcão 28, Dezembro 2006)

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