segunda-feira, junho 30, 2008

Tempo




Num tempo que só seu diz ser
o tempo d'outros partilha…


Passo a passo, sem esmorecer
vidas num instante cruzadas
recordações que se não esquecem
entre linhas desencontradas.


Aos alunos diplomados
ou aos companheiros de luta,
parceiros d'ideais conquistados,
solidário, camarada
ou,simplesmente, amigo…
uma palavra a todos é dedicada.


Do vazio que nada é,
seja por acaso ou não,
naquele que hoje volta a ser
um tempo de insubmissão,
transforma a raiva que é dor
em sublime poesia
gestos simples de amor
ou em canto de alegria.


De carácter forte e amável
cativa-nos com seu sorriso
e aos oitenta anos de idade
continua a ser um exemplo
na luta pela Liberdade.



Minda


Debaixo do Bulcão poezine
número 33 - Almada, Junho 2008






Acerca do livro Tempo Meu,
de Alexandre Castanheira

sexta-feira, junho 27, 2008

Variações em dó... na aldeia





Ao lado da casa estão as pocilgas
os porcos chafurdam ao lado da casa

Dentro de casa estão os filhos de Adão
e homens chafurdam na miséria do lar

Fora de casa ...
racionais aos milhões!
Milhões que chafurdam
dentro e fora de casa
como se sempre fosse
a merdial pocilga
ao lado da triste casa ...

E ainda afirmam
que fomos feitos à semelhança de Deus ...
Livra!



Alexandre Castanheira
Debaixo do Bulcão poezine
Número 33 - Almada, Junho 2008

quinta-feira, junho 26, 2008

Pedido

quero que me dês o mundo

se não o puderes embrulhar
atira-me uma imitação brilhante
que também traga dias de sol
e estrelas do norte
e crianças a brincar à nossa porta


(deixa a porta aberta)



Sílvia Melo

de Inominável, Ponto de Saturação
(http://pontodesaturacao.blogspot.com/)



Debaixo do Bulcão poezine
número 33 - Almada, Junho 2008

Os rios correm a juros
Nas lembranças de latifúndios
Sob os murmúrios há danças
De desgraças ancoradas
A esquecer o toque de finados
Nos campanários da água
Como os sinos das aldeias
Orquestrando os óbitos
Com os nomes de Tóino
Do Manel do Sortes


(Paulo Sempre)


Debaixo do Bulcão poezine
número 33 - Almada, Junho 2008

terça-feira, junho 24, 2008

Poesia Vadia - sábado, 28, às 17h30


A sessão realiza-se no Café " Le Bistro", no fim da Rua Capitão Leitão, frente à recuperada Igreja de São Sebastião na Rua dos Espatários, em Almada

domingo, junho 22, 2008

Na noite de São João




quando era pequenino eram fogueiras
as noites de são joão. hoje marchantes
marcham nas avenidas cintilantes
coloridas com arcos suor e feiras

rulotes com pipocas: mil maneiras
de beber e alegrar os visitantes
de esquecer as agruras de ontem. antes
sanjoanizar a vida erguer bandeiras

de cada rua bairro ou freguesia
pra não viver sempre dessa maneira
frequentemente pobre e apagada.

mude-se então a vida: uma golada
de vinho ou de cerveja: bebedeira.
(mas não se muda já como soía.)

Affonso Gallo
(Junho 2003)
http://affonsogallo.blogspot.com/

quarta-feira, junho 18, 2008

Entrevista com o Debaixo do Bulcão


Dois investigadores do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra estiveram à conversa com António Vitorino (coordenador do Debaixo do Bulcão).

Rita Grácio e Jorge Fragoso - os dois investigadores - estão a trabalhar no projecto "Novas Poéticas em Portugal": uma catalogação (digamos assim, embora seja mais...) das movimentações poéticas portuguesas nas últimas duas décadas, desenvolvido por aquela instituição coimbrã. E tiveram a amabilidade de vir ao Fórum Municipal Romeu Correia, em Almada, para conhecer a realidade editorial (enfim, chamemos-lhe isso) do Debaixo do Bulcão.

Fica aqui o registo desse momento (foto de Rui Tavares). E a promessa de, um dia destes (talvez quando o projecto estiver concluído e publicado), voltarmos ao assunto.

Antologia de Poetas Lusófonos - entrega de textos até 17 de Agosto


Depois do sucesso da I Antologia de Poetas Lusófonos, a Editora Folheto Edições & Design com a colaboração do Elos Clube de Leiria da Comunidade Lusíada e com o apoio institucional de várias Associações, Academias e Instituições dos Países Lusófonos, entendeu lançar o regulamento para a II Antologia de Poetas Lusófonos. Estão já garantidas apresentações, para esta II Antologia, no Rio de Janeiro (Brasil), Zurique (Suíça), Paris (França) e várias localidades de Portugal onde se podem já destacar Lisboa, Leiria, Porto, Alcanena e Silves.

A entrega de trabalhos decorre até 17 de Agosto, para para “Folheto Edições & Design”, Praça Madre Teresa de Calcutá, Lote 115, Loja 1 – 2410-363 Leiria – Portugal, ou através do e-mail folheto@gmail.com. Podem participar todos os cidadãos naturais dos Países Lusófonos que residam em qualquer país do Mundo.

A antologia é coordenada editorialmente pela editora Folheto Edições & Design. A selecção dos poemas a editar é da responsabilidade da Comissão de Avaliação coordenada por Arménio Vasconcelos (Governador da Zona Centro de Portugal do Elos Clube da Comunidade Lusíada, Honoris Causa da Academia Brasileira de Belas Artes, da Academia Luso Brasileira de Letras, entre outras) e Adélio Amaro (Presidente do Elos Clube de Leiria).

Cada participante deverá enviar até cinco poemas de sua autoria, com o máximo de 30 linhas (cada poema). Cada candidato responderá perante a Lei por plágio, cópia indevida ou outro crime relacionado com direitos de autor.

Regulamento, ficha de inscrição e mais informações em
http://poetaslusofonos.blogspot.com/

quinta-feira, junho 12, 2008

Quadras ao gosto popular, que fez o poeta nefelibata Affonso Gallo, por ocasiam dos Santos Populares, e a propósito do Campeonato Europeu de Futebol

no anno da graça de dois mil e quatro, em Almada, mas olhando para Lixboa, capital do império, cidade onde se realizaria a malfadada final da mencionada competição, de mui má memória (a final, não a competição)

Neste reino de durões
É preciso é futebol.
Perder? Mas nem a feijões:
Não somos um povo mol'

Onze gajos e uma bola
E toc'á chutá-la a eito.
Se no fim cantam vitória
Fica o País satisfeito

Vamos lá dar-lhes um baile
Vamos lá comer a relva.
Chega de tanto desaire:
Não somos bichos da selva!


Affonso Gallo


Mais poemas deste autor em:


segunda-feira, junho 09, 2008

Portugal


Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,
moinho a braços com um vento
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,
se fosses só o sal, o sol, o sul,
o ladino pardal,
o manso boi coloquial,
a rechinante sardinha,
a desancada varina,
o primitivo ladrilhado de lindos adjectivos,
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos,
se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias,
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendário na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!
*
Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,
rendeiras de Viana, toureiros da Golegâ,
não há «papo-de-anjo» que seja o meu derriço,
galo que cante a cores na minha prateleira,
alvura arrendada para o meu devaneio,
bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.
Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós...

Alexandre O'Neill
"Feira Cabisbaixa"
Lisboa, 1965
Entrei no café com um rio na algibeira
e pu-lo no chão,
a vê-lo correr
da imaginação...

A seguir, tirei do bolso do colete
nuvens e estrelas
e estendi um tapete
de flores
a concebê-las.

Depois, encostado à mesa,
tirei da boca um pássaro a cantar
e enfeitei com ele a Natureza
das árvores em torno
a cheirarem ao luar
que eu imagino.

E agora aqui estou a ouvir
A melodia sem contorno
Deste acaso de existir
-onde só procuro a Beleza
para me iludir
dum destino.

José Gomes Ferreira

José Gomes Ferreira (1900 - 1985)


José Gomes Ferreira, nome maior da poesia portuguesa do século 20, nasceu no Porto, a 9 de Junho de 1900.

«Escritor, poeta e ficcionista português, natural do Porto. Formou-se em Direito em 1924, tendo sido cônsul na Noruega entre 1925 e 1929. Após o seu regresso a Portugal, enveredou pela carreira jornalística. Foi colaborador de vários jornais e revistas, tais como a Presença, a Seara Nova e Gazeta Musical e de Todas as Artes. Esteve ligado ao grupo do Novo Cancioneiro, sendo geral o reconhecimento das afinidades entre a sua obra e o neo-realismo. José Gomes Ferreira foi um representante do artista social e politicamente empenhado, nas suas reacções e revoltas face aos problemas e injustiças do mundo. Mas a sua poética acusa influências tão variadas quanto a do empenhamento neo-realista, o visionarismo surrealista ou o saudosismo, numa dialéctica constante entre a irrealidade e a realidade, entre as suas tendências individualistas e a necessidade de partilhar o sofrimento dos outros.



Da sua obra poética destacam-se, para além do volume de estreia, Lírios do Monte (1918), Poesia, Poesia II e Poesia III (1948, 1950 e 1961, respectivamente), recebendo este último o Grande Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores. A sua obra poética foi reunida em 1977-1978, em Poeta Militante. O seu pendor jornalístico reflecte-se nos volumes de crónicas O Mundo dos Outros (1950) e O Irreal Quotidiano (1971). No campo da ficção escreveu O Mundo Desabitado (1960), Aventuras de João Sem Medo (1963), Imitação dos Dias (1966), Tempo Escandinavo (1969) e O Enigma da Árvore Enamorada (1980). O seu livro de reflexões e memórias A Memória das Palavras (1965) recebeu o Prémio da Casa da Imprensa. É ainda autor de ensaios sobre literatura, tendo organizado, com Carlos de Oliveira, a antologia Contos Tradicionais Portugueses (1958). Em Junho de 2000, foi lançada no porto a colectânea Recomeço Límpido, que inclui versos e prosas de dezenas de autores em homenagem a José Gomes Ferreira»



Do site As Tormentas:


www.astormentas.com/zegomes.htm

segunda-feira, junho 02, 2008

A paginar... aguarde um momento.


A edição 33 de Debaixo do Bulcão poezine está quase pronta.

Sai ainda durante este mês, para não perder os Santos Populares, as Festas da Cidade de Almada e o Europeu de Futebol.

Com textos de Affonso Gallo, Alexandre Castanheira, António Vitorino, BB Pásion, Bruno Martins, Ermelinda Toscano, João Meirinhos, Luís Milheiro, Madalena Barranco, Mário Lisboa Duarte, Nuno Rocha, Paulo Sempre, Sílvia Melo, Tere Tavares, e um poema do colectivo Aranhiças e Elefantes.

E mais: fotografias de António Vitorino, de Leo Vieira e de Rui Tavares, a acompanhar alguns dos poemas.

A capa (e respectiva contra-capa) é de Jorge Feliciano.

Estamos a paginar. Aguardem um momento.