Sinto um imenso vácuo dentro da cabeça. Como se milhares de zunidos dançassem em meus ouvidos. Uma pequena haste de Heráclito me põe nos lábios um sabor de noite e logo se vai. Porém, sou eu que não vou e me perco no intervalo de um "preciso ir" e um "quero ficar".
Como se possível fosse ocultar-me de mim, num furto dolorido, juntando os olhos e a pele untados de transgressões, mal vestindo o querer mais farta ser do que sou, digo a mim mesma: amanhã, do final para o meio, sabendo o mesmo vácuo que se desprenderá da luminosa perspectiva: o meu caminho mesmo – que de mesmo só tem o ponto que desponta nas raias do sentido – tão estranho e grandiosamente pequenino, mais quando a minha substância é consciente da própria insubstancialidade.
Debaixo do Bulcão poezine
Número 33 - Almada, Junho 2008
1 comentário:
Ah, Tere Tavares, é minha querida amiga e sou fã de seus escritos. Ela consegue pintar uma paisagem com algumas palavras e fazer o leitor "despontar nas raias do sentido".
Beijos ao António e à querida Tere.
Enviar um comentário