quinta-feira, julho 03, 2008




Sinto um imenso vácuo dentro da cabeça. Como se milhares de zunidos dançassem em meus ouvidos. Uma pequena haste de Heráclito me põe nos lábios um sabor de noite e logo se vai. Porém, sou eu que não vou e me perco no intervalo de um "preciso ir" e um "quero ficar".


Como se possível fosse ocultar-me de mim, num furto dolorido, juntando os olhos e a pele untados de transgressões, mal vestindo o querer mais farta ser do que sou, digo a mim mesma: amanhã, do final para o meio, sabendo o mesmo vácuo que se desprenderá da luminosa perspectiva: o meu caminho mesmo – que de mesmo só tem o ponto que desponta nas raias do sentido – tão estranho e grandiosamente pequenino, mais quando a minha substância é consciente da própria insubstancialidade.




Debaixo do Bulcão poezine

Número 33 - Almada, Junho 2008

1 comentário:

Madalena Barranco disse...

Ah, Tere Tavares, é minha querida amiga e sou fã de seus escritos. Ela consegue pintar uma paisagem com algumas palavras e fazer o leitor "despontar nas raias do sentido".

Beijos ao António e à querida Tere.