quarta-feira, julho 04, 2007

Que mais...

Que mais...

Resta a palavra nua
o predicado acomodado,
o verbo por conhecer,
alimento precário,
substantivo aleanado.
Fénix anilhada
ilusão de liberdade mental.

Que mais...

Trinta gramas de mim
Taje Mahal em derrocada
pira fúnebre incendiando o Tejo
Rituais sem sentido,
sentido de ritual perdido.

Que mais...

A lua na palma da mão
e um céu carregado no peito.
Sonegar o sono e sonambulo
deambular pela vida.

Que mais..

Viajante mendigo da palavra
inimigo feroz.
Atrocidade nascida de
um coito mal parido

Que mais...

A esperança numa prisão
de chagas em caminhos
de neon e vias lácteas
cinematográficas.

Que mais...

Mais um pouco
mais dois passos para trás
de olhar fixo,
vitreos olhos de alma aberta,
correntes de ouro na mente
e espezinhando sonhos o
infinito grita

Que mais...

Mais um poema sem valor.
Não existem sonetos de amor
só alarmes de desejo
alertando a solidão
A solidão viola
A solidão medita
A solidão escreve
A solidão aclama

Que mais...

A sanidade vendida
em embalagens farmacéuticas.
A abolição da vontade
a liberdade na instituição
bancária mais próxima de si.

Que mais...



António Boieiro
(foto do blog
Poetas Almadenses)

publicado em Debaixo do Bulcão poezine
número 30 - Almada, Junho 2007

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