sexta-feira, julho 06, 2007

Festival de Teatro de Almada (4 a 18 de Julho)

«O conjunto de espectáculos que em 2007 se oferece ao público, na diversidade das respectivas propostas, traduz uma visão a um tempo alargada e profunda do estado actual do teatro e das diferentes formas de questionamento do Mundo em que ele se situa e com o qual se confronta. Mas é o resultado, também, por outro lado, de uma rara confluência de valores estéticos, sem os quais a intervenção artística não pode atingir verdadeiramente a desejada funcionalidade social.

Muitas das realizações deste ano abordam o problema da relação entre o indivíduo e o colectivo. Uma sociedade feliz não pode existir sem indivíduos felizes. Mas pode um indivíduo ser feliz no seio da infelicidade geral? Esta é a questão. Em termos de tragédia ou de comédia, a partir da seiva inesgotável de Ésquilo, Eurípedes, Shakespeare ou Tchecov, das sibilinas e impiedosas reflexões de Swift, ou com o recurso a novas linguagens, inovadoras das estruturas narrativas, e até ao texto que a técnica do clown escreve sem palavras, o que, no teatro que este ano vamos ver, todos os artistas procuram é ajudar-nos a reflectir sobre esta questão central. O indivíduo, como a personagem de Sizwe Banzi est mort que, no contexto do apartheid e das townships pergunta "O que é que se passa com este mundo de merda? O que é que querem de mim? O que é que eu tenho de mal?", está, numa sociedade ironicamente construída com o pretexto dos seus direitos legítimos, isolado e confuso.

O teatro, bem entendido, não nos dá as respostas de que precisaríamos. Mas faz-nos reflectir.
A liberdade, que é a própria natureza do teatro, convoca-nos à celebração do pensamento e à inquietude.»

Joaquim Benite, director do Festival de Almada
(Informações sobre o evento no site da
Companhia de Teatro de Almada:

http://www.ctalmada.pt/)

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