júlio verme deu a
volta ao mundo em 80 mil dias
e agora que chegou prepara-se para assentar
o rastejantraseiro na presidência do que estiver
vacante de presidentes
é o costume há sempre um júlio ainda por cima verme
que vem ver-me ver-te ver-nos
que saiu longetempo do buraco
da mãe para um feio dia limpar
pública meticulosamente os óculos
pô-los no nariz entalar o arreganho dum sorriso
entre as duas faiscantes vidraças
e dizer doravante quem manda
sou eu pelo menos até ao próximo
verme que a providência já fez partir do seu buraco
e ao qual cederei o poder dentro de 80 mil dias
quando a situação estiver normalizada
quando o povo encontrar praza a deus a cloaca
onde evacuar os seus filhos espúrios
causa de todo o mal
(e nós a vermos)
Alexandre O'Neill
"A Saca de Orelhas"
Sá da Costa Editores - Lisboa, 1979
Mais sobre este autor:
http://www.instituto-camoes.pt/cvc/figuras/alexandreoneill.html
www.arlindo-correia.com/o_neill_bio.html
segunda-feira, maio 28, 2007
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1 comentário:
Pareceu-me que este poema era uma boa forma de "comemorar" o 28 de Maio...
António Vitorino
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