O tempo passa.
A mão reescreve o sentimento de outras mãos num coração amarrotado. O teu olhar solidifica o vazio da minha visão e o meu corpo treme um pouco. Um olhar assim torna-se mecanismo de desilusão.
Como eu gostava ainda de saber escrever-te, o real é como uma máscara e sinto que perdeste anos sem fim a preparar uma vida aqui e ali interrompida pela distância.
Acho que cheguei aquele ponto em que desistir ou continuar são o mesmo precepício onde todos os desejos se tornam realidade...
E então a queda.
Vigio ilhas separadas onde habitamos com o riso abafado num murmúrio perdido no espaço. Um mundo existe ainda neste riso vazio de sentimento e evoca uma dança.
Dançaremos talvez um dia no espaço da minha morte. Os gestos desses movimentos mostrar-se-ão com toda a inocência para provocar o desassossego.
Fogem-me as palavras dos bonitos poemas mas a culpa é do sol que ilumina o caminho e assim sei de cor o que me espera no fim.
Porém o tempo passa e tudo se esquece e não foi só por acaso que hoje não falei nenhuma vez da palavra amor.
1995
Vang
(inédito)
quinta-feira, maio 03, 2007
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