... Porque resulta que vos amo começando pela carne,
resulta que vos amo porque vos vejo a carne,
que a carne que vos amo rigorosamente é vós,
que não vos distingo se vos procuro para além dela,
que me fazeis odor e me agrada também fazê-lo convosco,
que toda a estética da corrupção
nos afasta exactamente
da divina
carne humana.
Partindo de tudo isto é que é dela
que temos sede,
que temos fome,
que atingimos o júbilo,
que nos purificamos com a lenta destilação das dores implacáveis
e fatalmente somos homens,
não compreendendo nem de longe
o secular anátema contra a carne,
o estranho paradoxo dos amores chamados proibidos,
a catalogação hierárquica das aristocracias da carne,
a maldição dela centímetro a centímetro,
sabendo bem como eu sei que é exactamente a partir dela
que se pode falar graficamente das proximidades humanas,
que cosso comprovar a vossa esplendorosa existência,
que me chega
a espantosa tempestade de mar fundo
a que, para abreviar, chamam amor.
Miquel Àngel Riera
"Antologia da Novíssima Poesia Catalã"
Traduzido do catalão por Manuel de Seabra.
Editorial Futura. Lisboa, 1974)
Site sobre o autor:
www.escriptors.cat/autors/rierama/
segunda-feira, maio 21, 2007
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