Existem alturas
Em que explorando as ruas ao acaso,
Encontro os abraços da euforia, os
Sorrisos francos da harmonia e
O contar dos passos,
Traços com que
Desenho no espaço da avenida
Os esboços de uma ferida.
Existem certos momentos,
Nos limites pesados do tempo,
Em que quase distingo
Os gritos alegres da fantasia,
O clamor da noite fria e
O recomeço das histórias antigas
Dos amores e das cantigas.
Dos amores e das cantigas.
Existem dias imensos,
Radiantes e intensos,
Em que o material cinzento da cidade,
Se dilui em breve pranto, em
Brava ironia de ser humano,
Em fugas de tanto querer,
De tanto esquecer.
Existem os espaços sempre iguais,
Imóveis, fixos na memória,
Em que o forte aroma, o suor,
Flutua firme no ar, nas formas
Distantes de ver e
Na permanência do lugar,
Na luz que sublime reflecte,
No meu concreto olhar.
Já passaram tantos medos,
E tantos mais se fixam no
Frio das paredes,
E nos nós dos cruzamentos.
Lembranças soltas e presas
No cimento e nos pavimentos
E no passar dos momentos.
Enfrentar a corrente sedenta da cidade,
Crescer sempre em pensamento e
Nunca em idade, fazer da dúvida a verdade
Mesmo se não encontro no céu uma boa estrela,
Faz do meu desejo uma flor
E do teu amor a minha vontade.
Miguel Nuno
Debaixo do Bulcão poezine
Número 16 - Almada, Janeiro 2002
(Grafismo de Jorge Feliciano)
(Grafismo de Jorge Feliciano)
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