sábado, outubro 13, 2007

De sal e bruma




Só eu fiquei
aqui parada
na noite agreste
desesperada.

Só eu fiquei
de pedra e mar
com este búzio
no meu olhar.

Só eu fiquei
de sal e bruma
com este canto
feito de espuma.

Feito de espuma
feito de nada.
sou a criança
inconsolada.



Maria Rosa Colaço


(em "Alma(da) Nossa Terra",
colectânea de poesia organizada por Ermelinda Toscano.
Edição SCALA. Almada, Março de 2006)



Maria Rosa Colaço
(N. Torrão, Alcácer do Sal, 19/09/1935 - f. Lisboa, 13/10/2004):
Maria Rosa Parreira Colaço Malaquias de Lemos formou-se em enfermagem pelo Instituto Rockfeller. Tirou posteriormente o curso de Magisté­rio Público. Em 1959 foi colocada como professora numa escola primária de Cacilhas, passando a residir em Almada, inserindo-se de imediato na vida cultural da vila, com destaque para a tertúlia artística do Dra­gão Vermelho, que realizou em 1960 a 1a Exposição de Poesia Ilustrada, da qual fez parte. Dois anos de­pois partiu para Moçambique onde leccionou durante cerca de dezasseis anos e exerceu em simultâneo a actividade jornalística nos seguintes jornais: Notícias da Beira, Notícias de Lourenço Marques e Voz de Mo­çambique. Em 1977 regressou à nossa cidade, dei­xando novamente a sua marca nos meios culturais e associativos de Almada. Colaborou com alguns escri­tores galegos, na Universidade de Vigo. Foi assessora da RTP, no Departamento de Textos e Criação Literá­ria, e colaboradora da revista Máxima e dos Diário de Notícias, Diário Popular e A Capital, onde mante­ve uma crónica semanal no jornal, durante vários anos. A Antologia A Criança e a Vida, um best-sellers que já atingiu a 40.â edição, projectou-a a nível nacio­nal e internacional, apesar da primeira edição ter sido destruída pela PIDE; foi traduzida em francês, catalão e inglês; foi tema para um bailado numa universida­de, no Brasil, e tese de doutoramento de uma profes­sora, em Cuba. Como poetisa viu os seus poemas serem gravados pêlos Trovante, Coro de Santo Amaro de Oeiras, Paulo de Carvalho, Luisa Basto, João Fer­nando, Samuel e Sérgio Godinho, entre outros. De­tentora de vários prémios literários, em 1994 recebeu a Medalha de Ouro de Mérito Cultural, da Câmara Municipal de Almada. Na sua terra natal existe uma rua com o seu nome e na Quinta da Alembrança, Feijó, é patrona da escola primária local

Fonte: "Gente de Letras com Vínculo a Almada", edição SCALA. Almada, Dezembro de 2004
Fotos da autora retiradas do blogue

1 comentário:

Madalena Barranco disse...

António, enquanto a Maria Rosa fala em linda poesia sobre "criança desconsolada" por aqui comemoramos o "Dia da Criança"... Primeiro de junho também é uma data propícia para homenagear a eterna criança que vive em nós e por que não dizer: todos os dias?! Querido amigo, emocionei-me com seu comentário em meu bloguinho, que conta sua história de amor com os bêdês (eu também não conhecia essa graciosa expressão. Obrigada e até breve. Beijos.