segunda-feira, agosto 17, 2009
Poema da madrugada – São Paulo
Pelas pálpebras semicerradas
da segunda madrugada
leio o poema das lendas urbanas.
A cada página da megalópole
monstros sem rosto
se desvelam à luz do asfalto.
Há lanternas sanguinolentas
dos carros em disparada. Freio.
O olhar notívago da avenida
diz que é Paulista, e buzina
que em sua esquina talvez
exista Consolação... Surge o letreiro
ainda nublado de sua última hora:
“Cafeína & Chantili”.
Anuncia-se a profecia
do fim da treva, quando o café
sem pão se infiltra no creme
e se perde do expresso. Acelero.
Quero erva mate com maçã,
e a redenção do chocolate.
As estrelas já se foram?
O livro não é feito apenas de papel...
A Manhã inspira o segredo da Noite
e seus fantasmas de néon expiram
à sombra dos prédios de vidro.
Despeço-me dos olhos castanhos
de mais um céu de madrugada.
Madalena Barranco
http://flordemorango.blogspot.com/
Da série: Cidade Fantasia
Debaixo do Bulcão poezine
Número 36 - Almada, Julho 2009
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3 comentários:
Madalena:
Este poema fez-me lembrar algumas noites em Lisboa, durante a década de 1990.
Parabéns à autora. Pelas memórias de Lisboa que conseguiu evocar num poema sobre São Paulo(ou será que é um poema sobre qualquer noite em qualquer cidade cosmopolita do "mundo ocidental"?).
Beijos,
António Vitorino
Querido António... Que feliz comparação você fez entre as cidades do mundo, onde sempre há de vingar um néon e existirá uma pessoa em busca de um café.
Beijos - obrigada!
Madalena
Madá,
Fazes parte da cidade, onde se desenrolam tão lindas palavras, e cada habitante/leitor inevitavelmente se identifica.
Beijos
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