sábado, novembro 01, 2008
Molero em Cacilhas
´
Requiem para Dinis Machado
Naquele fim de tarde,
Molero engalanou-se e atravessou o rio,
Inebriado pelo convite de um amigo,
Que lhe prometera muita “palheta”, belos petiscos,
E claro, um dos melhores tintos da Margem Sul...
Molero deixou o Cais de Sodré,
Numa das barcas grandes mistas
Que furavam as águas do rio.
Viajou no convés, povoado de carros,
Com uma cigarrilha no canto da boca
Entretido a fabricar nuvens à volta
Dos seus olhos sonhadores, presos ao Tejo,
Que dançava uma valsa lenta com o Vento.
Ele não sabia,
Mas Cacilhas esperava-o, envaidecida,
Queria muito saber o que dizia Molero,
Daquela “pomada” e dos enchidos caseiros.
E Molero disse tanto,
Apenas com o olhar luminoso.
O sorriso de bom malandro iluminou-se,
Quando foi confundido com o Machado da Adega
E não com o Mcshade dos livros,
Ambos figuras de cartaz do Bairro Alto.
De tantos amores, tantas vezes indelicados...
Os copos enchiam-se e as personagens chegavam e sentavam-se,
Enleadas com o decorrer daquele filme,
Ainda com a beleza dos tons a cinzento.
Antes de apanhar o último barco,
Molero ainda escutou dois fados castiços
E falou da poesia que inunda as ruas,
Na companhia de Borges e de Pessoa...
Depois despediu-se,
Sem ter de fazer o quatro
E sem voltar a olhar para trás,
Como extraordinário fixador que era,
De filmes e livros policiais.
Já dentro da barca,
Acendeu uma cigarrilha no convés
E ficou a conversar com as estrelas,
Com a cumplicidade do Tejo e das marés...
Luís Milheiro
http://casariodoginjal.blogspot.com/
Debaixo do Bulcão poezine
Número 34 - Almada, Outubro 2008
(Fotografia de Rui Tavares
http://fotografiacriativaruitavares.blogspot.com/
- Cais do Ginjal, Cacilhas, Almada)
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