Era no silêncio que queríamos estar, na madrugada bem quieta, fosse no Inverno ou no Verão. Não queríamos mais que não fosse o silêncio. Estávamos longe, tanto quanto a terra permite, sós no quarto, com o mar. Era do mar que vinha o silêncio e a própria madrugada. Era do mar que vinham as formas dos teus corpos, tão quietos como as árvores a nascer. Um dia eu chorei perante o teu corpo, com uma passividade que vem da terra ferida pela chuva e pelo sol. Foi depois de termos amado e eu não estava triste, mas o teu corpo adormecido era demasiadamente quieto, demasiadamente imperceptível como se em ti não houvesse rosto, mamas, púbis, pernas, braços. Estavas como se fosses os olhos dum veado. E eu chorei. Chorei porque o silêncio te tinha levado e eu estava só.
Jacquett Ribeiro
Debaixo do Bulcão poezine
Número 15 - Almada, Julho 2001
Número 15 - Almada, Julho 2001
1 comentário:
Olá António, a bela prosa poética de Jacquett toca no tema mais doloroso e difícil de superar: a solidão a dois. Abraços - parabéns.
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