Alta noite quando a lua
No azul distante fluctua,
Com seu cortejo de estrellas,
Minh’alma vôa perdida
A amplidão indefinida,
E confia no seio d’ellas,
Como queixas religiosas
As suas mágoas saudosas,
As suas íntimas dôres.
E quando a aurora apparece,
Esmaltando a loira mésse,
Beijando o calix das flôres
A terra toda orvalhada,
Diz aos raios da alvorada
Que enxuguem o pranto seu,
Que dos olhos das estrelas
Cahiram lágrimas bellas
Toda a noite, e que no ceu
Alguma pena roçou,
Ou magoa estranha pairou
Que fez tombar taes aljofres...
E as estrellas recolhidas
Commentam, sós, doloridas,
Minh’alma, tudo o que soffres...
Albertina Paraizo
Jornal do Domingo, 19 de Junho de 1887(poema reproduzido conforme a ortografia portuguesa
da época)
2 comentários:
Opinião pessoal do editor deste blogue:
Eu cá, de faCto (*), não sou contra o acordo ortográfico.
Tenho, aliás, a percePção (**) de que a língua é dinâmica e tende sempre para a oralidade.
Tenho dito.
António Vitorino
(*) lê-se em português de Portugal
(**) escreve-se em português de Portugal, mas lê-se em português do Brasil
António, ah, esses poemas escritos em português antigo têm um charme especial e remonta a um tempo mais romântico. Adorei a poetisa que conseguiu "recolher as estrelas" em alguns versinhos. Beijos.
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