há quem diga que os dias são todos iguais. talvez num determinado momento assim pareça. quando o sonho anda escondido e a vida se limita ao círculo da rotina dos dias quotidianos. mas não são. nunca foram.
há o dia em que nos pomos de pé. e andamos. e começamos a olhar o mundo olhos nos olhos. o dia em que deixamos de ter sorrisos inocentes. e somos o centro do mundo. do pequeno mundo que é sempre o que nos rodeia. o dia do primeiro dente. do primeiro banho, isolados. em que somos um direito próprio. o dia do primeiro arrufo. da birra dos sentimentos. que rapidamente se instalam e nos tornam diferentes dos outros animais. somos mais perigosos.
o dia dos primeiros passos rumo à escola. na descoberta de outros amigos. outras brincadeiras. o dia do primeiro exame. do nervoso miudinho. da insegurança. do primeiro beijo. que demorou não mais de três segundos, mas que nunca mais acaba. e que por ser o primeiro será sempre o mais perfeito. o dia dos primeiros jogos às escondidas. das corridas atrás das raparigas. da primeira ida ao cinema, ao teatro. da primeira saída. do primeiro pecado. num qualquer canto.
o dia em nos começam a crescer pêlos, onde antes tudo era liso. o dia em que achamos que somos homens quando passamos a fazer a barba. e não queremos. do primeiro concerto. da primeira entrevista de emprego. da descoberta de que afinal não somos todos iguais. e que há uns mais iguais que outros. da primeira namorada. da primeira mulher. o dia em que escrevemos cartas de amor. e as recebemos. depois em que apenas as recebemos ou as escrevemos. e o dia em que nem uma coisa nem outra.
o dia do primeiro filho. o dia em que somos tios e mais tarde avós. e repetimos novamente todos os rituais. o dia do primeiro cabelo branco. da primeira ruga. o dia em que os pêlos vão caindo. e o dia em que são outros que cuidam de nós. tal e qual, como quando éramos crianças. esses, são os dias em que já pouco importa. a não ser se seremos pó ou cinza.
e depois há os dias assim, como hoje. em que falamos dos dias do futuro. que são já passado. porque afinal o presente, não existe. é apenas uma linha imaginária do tempo.
almada, in crónicas do mundo, agosto/2011
a faustino
Debaixo do Bulcão poezine nº40
Almada, dezembro 2011
domingo, janeiro 22, 2012
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário