domingo, dezembro 12, 2010

Fantoches do desejo



Pinto o desejo de momentos, que fazem de ti um rio de cores
Que nunca soube atravessar o deserto frio de teu olhar
Cruzo as ruas da loucura, corôo o mundo de espinhos
Dizes que ainda somos um, mas eu sinto-me tão sozinho

Vendo sonhos para nunca me chamarem de frustrado
Intrigas-me e eu perdoo-te ainda somos dois no mesmo jogo
Pagas para veres sentir estar tão perto do fim
Faço de conta que te esqueço, posso eu fugir de mim?

E eu vim só para te ver
Agora que o comboio já passou
Aplaudam a decadência, o espectáculo já acabou
Mas eu faço de conta que ainda agora começou

E quanto mais eu fugir
Mais correm atrás de mim
Para que eu nunca me esqueça
Que estou tão perto do fim

Deitar tudo a perder
Por uma noite ou um beijo
Pinto de negro a loucura
Fantoches do desejo

Fecho os olhos... talvez te encontre na escuridão
Abro as portas que um dia se transformaram em prisão
Navego no meio do lodo, tenho todo o tempo do mundo
Para fugir ao desespero, ou será apenas ilusão

Revela-me os segredos que turvam a tua alma,
Deixa-me saltar os muros que impões à tua volta
Não te escondas na promessa, que nunca poderás cumprir
Faltam-te agora as palavras, no fim só te resta fugir

Deitar tudo a perder
Por uma noite ou um beijo
Pinto de negro a loucura
Fantoches do desejo...



Aarons Bia

Debaixo do Bulcão poezine
Número 1 - Almada, Dezembro 1996

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