sábado, novembro 07, 2009
Loth fala com o anjo
Sei que na tua presença a vida salvarei
e já que novamente vou nascer
não me ordenes que para as montanhas fuja
Que compreendo eu das coisas entre os mortos
prefiro esta fértil sã campina
eu nada sei das grutas das searas
isto se eu conhecer algum planalto
nem mesmo de semente arado ou chuva
Minha mulher não é das mães que ceifam
e estas filhas que não tiveram varão
que sabem senão só de observar e colher
com olhos nas pracetas de Sodoma
Eu próprio sou juiz nestas muralhas
e à sua porta: eu tudo me esforcei
embora eu me aflija entre os seus grandes
Tenho saudades dos jardins de Ur
se aos teus olhos vivo não me deixes as montanhas
Não gosto de estar só (vê o meu tio Abraão)
ao menos entre os muros de alguma grande cidade
encontrarei refúgio deste grande mal
Há ali uma cidade e por sinal pequena
ao pé dos seus portais permite que repouse
se houver um eucalipto onde me abrigar
dentro do seu espaço ali serei feliz
Parece ser formosa e ter fontes sempre jovens
grandes alamedas e lindas raparigas
Entre eles estarei seguro estou bem certo
de amanhã erguer o que hoje não levanto
que entretanto o sol não sairá da terra
Vê bem o seu perímetro tudo é tão pequeno
por isso se achei graça perante ti viverei
de resto bem conheces o ângulo onde fica
Não derribes os seus muros já que daqui em diante
Zoar é no caminho em frente
António José Coutinho
Debaixo do Bulcão poezine
Número 6 - Almada, Novembro 1997
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