terça-feira, novembro 06, 2007

Soneto da separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.


Vinicius de Moraes

(Mais poemas de Vinicius em
www.revista.agulha.nom.br/vm2.html)

Imagem: foto de António Vitorino, numa página do programa da primeira temporada do Grupo de Dança de Almada, em 1991. Vejam o website da actual Companhia de Dança de Almada – que, a propósito, está a organizar a 15ª edição da Quinzena da Dança de Almada – clicando em:
www.cdanca-almada.pt/pt/index.htm

4 comentários:

inominável disse...

.... e lindo que é este poema musicado... e cantado pelo Tom Jobim...

Debaixo do Bulcão disse...

É muito bom, sim!

Saudações!

António Vitorino

Pata Negra disse...

Começei a ler e perguntei para mim mesmo: mas quem é que terá escrito isto?
Mais abaixo: há porra! Tinha de ser este malandro!
Um abraço a verso

Madalena Barranco disse...

António, eu às vezes penso nas inumeráveis vezes que este soneto ou parte dele flutuou nas bocas dos apaixonados. É lindo! Beijos. P.S.: heheh adorei sua foto dançarina!