Que dor imensa, triste sina,
o cravo murchou,
morre a vindima.
O Alentejo chora
lágrimas de seca.
O operário solda
a alma
sem salário.
A hipocrisia tomou posse
em forma de trabalho.
A repressão na rua continua:
se gritar liberdade
dizem que é vaidade,
que não sabes trabalhar.
Como é que posso trabalhar
sem ser explorado,
sem ser louco mandado,
marioneta do capital,
sem vender a identidade?
Mas se grito sou mal educado,
sou mal tratado,
louco varrido.
Triste sina,
qual a melhor sorte?
Estar calado, voltar ao novo estado.
Se grito estou tramado.
Será que não voltámos ao novo estado
só que este está disfarçado.
Abril está esquecido,
escondido em ruelas escuras.
Os capitães são ruas,
alamedas que ninguém sabe o nome.
Já não há cravo na lapela,
está perdido na viela.
António Boieiro
Debaixo do Bulcão poezine
Nº 25 - Almada, Abril 2004
1 comentário:
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