sexta-feira, outubro 30, 2009

Poeta junto a incerto litoral


"Que não pode cantar com melodia
Um peito, de gemer cansado e rouco"
Bocage

nos teus delírios chispam mil falésias
poeta do veneno da verdade
e o mar revolto em baixo é paramento
na liturgia insana da saudade.

ó filhos desta voz altiva e seca
quem assim vos zurziu, almas penadas?
responde o claro eco: não fui eu
responde o mar: não tenho águas paradas.

(silêncio...)

não brada mais ao mar esse poeta
conhece enfim a dor da humanidade
mas a que tem no peito já o mata
erros seus, má fortuna, flor calada.


António Vitorino

Debaixo do Bulcão poezine
Número 6 - Almada, Novembro 1997

Os abismos do pó imenso


Os calores...
impedem-me o deslocar-me,
e resolvo cair nos
abismos do pó imenso,
enquanto os cadáveres das aves-mortas-de-pé
apodrecem ao vento...

há quem espere,
durante anos,
um reflexo novo nas águas dos repuxos...
uma transparência límpida...
onde as mulheres
penteiam os gestos quebrados...

Contaram-me...
que ela morreu no
espanto de existir vazio...

compreendo longamente...



M. Traça Corrosiva

Debaixo do Bulcão poezine
Número 6 - Almada, Novembro 1997

quinta-feira, outubro 29, 2009

Nos espinhos de uma rosa azul

(Rosas azuis não existem ou então não são silvestres..)



A imagem criada por reflexo
das ideias duma cor escrita
inequivocamente,
arde nas mãos desertas
à espera
de se fecharem num sono doce.
A eterna luta
entre o alter eu
e o super eu,
entre o que sou
e o que já me deixei (de) ser.
Estou numa ânsia de permanecer
ou me perder
nas sombras
de sempre.
Não me vou mais ferir
no sangue aflito
por rosas frias
que choram espinhos antigos.

Uma rosa faz sentido
com as suas raizes
bem sulcadas na terra
fresca,
não na memória
perpétua
duma estufa
(fria).


Gabriel

Debaixo do Bulcão poezine
Número 6 - Almada, Novembro 1997

quarta-feira, outubro 28, 2009


Em tempos fui rei
Em tempos eu era o tempo
Em tempos eu era a vida,
era a morte
A mão que estrangula e destrói,
a mão que semeia cria e gera.
Os olhos que tudo viam,
a face que em prece todos
sonhavam.
Em tempos eu morri
de uma morte cruel
e nasci com o passado.

António Boieiro

Debaixo do Bulcão poezine
Número 6 - Almada, Novembro 1997

Arte




Arte morta enfadonha e esquecida
tal nuvem branca em céu azul,
imagem surda e tantas vezes repetida.

Uma face sorridente, que sinto entristecida
Uma árvore forte e segura
em que transformo numa flor desprotegida
ruas alegres e coloridas
onde apenas eu vejo feridas.

É mergulhar em tua face entediada
e permanecer sempre mudo
é virar a cara ao sol e olhar nos olhos a escuridão
e acreditar que todos os risos à nossa volta
são absurdos.


É esvanecer como todas as almas desperdiçadas
que ao morrerem encurraladas no sistema
se sentem atraiçoadas.



João Gomes



Debaixo do Bulcão poezine
Número 6 - Almada, Novembro 1997

quinta-feira, outubro 22, 2009

Poesia Vadia: sessão de Outubro 2009


Poesia Vadia é a designação das sessões mensais de poesia, abertas a todos os que nelas queiram participar. Dinamizadas pelo projecto Poetas Almadenses:
A próxima realiza-se sábado, 24 de Outubro, no Le Bistro Café (Almada, Largo das Andorinhas). A entrada é livre.

quarta-feira, outubro 21, 2009

Gambuzine: em Dezembro, com textos de colaboradores do Debaixo do Bulcão


Está quase. Falta mesmo pouco para que apareçam por aí novas BDs e outras coisas visualmente (e/ou intelectualmente) estimulantes. Mas, desta vez, com um bónus: a colaboração de Catarina Henriques e António Vitorino - autores que, como se sabe, muito têm dado a este projecto bulcânico.


Informações no site do Gambuzine:



Vão passando por lá.

sexta-feira, outubro 16, 2009

“A Poesia é p’ra Comer”


17 de Outubro às 17h30 – Sala Pablo Neruda, Fórum Municipal Romeu Correia (Biblioteca Central de Almada)


Receita poética:

Escolhe-se uma poesia, o ingrediente principal.

De seguida juntam-se mais alguns ingredientes que combinam gastronomicamente palavras e sentidos. Inspiração e criatividade q.b. Serve-se com alegria e acompanhada de amigos.

Grau de dificuldade: simples

Cada poema virá acompanhado de um doce, numa partilha de sentidos que se pretende inovadora.

Venha saborear esta doce poesia connosco!
Entrada Livre

Organização: Biblioteca Municipal de Almada e Poetas Almadenses.