quarta-feira, abril 18, 2007

O Cravo

A todos os que lutaram por Abril
mas especialmente a Francisco Lino, o meu rebelde bisavô,

pela fé inabalável que depositou na liberdade.













A 25 de Abril de 1974
festejou-se a liberdade e o sonho,
com hinos nos lábios,
com votos renovados de esperança.
Com o País aberto à verdade,
e os braços estendidos aos Heróis,
às promessas e à confiança.
Foi dia de luta, de lágrimas,
de adeus às armas, de acolhimento.
De um sorriso para uma certeza.
As prisões e as torturas
queriam-se longe da lembrança,
pois agora reforçavam-se os desejos
de uma Pátria nova, renascida,
de uma Pátria nova Portuguesa!

Porém,
o tempo passou,
e um cravo rubro, solitário,
ficou na estrada tombado...
As desilusões esmagaram-no
e o Homem Novo ignorou-o,
tomando-o por vinho entornado.

E hoje,
é recordado com brindes e discursos de glória,
esse dia que ninguém esqueceu.
Mas há novos pés no silêncio a pisarem
aquele cravo de sangue exaltado e vitória
que no auge da festa alguém perdeu!...

No futuro,
uma criança,
brincando na areia da estrada,
encontrará o cravo,
que à revolução foi ceifado.
Ao romper de uma aurora,
em vigor, plantá-lo-á de novo,
para que a fé não se apague.
E crente nas razões do povo,
na sua justiça, na sua dor,
estará a plantar, sem o saber,
a mais doce força da Saudade,
e o mais intenso poema de Amor.


Helena de Sousa Freitas
Setúbal, Dezembro de 1997
(Publicado em Debaixo do Bulcão poezine
número 10 - Almada, Setembro 1998)

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